A prática regular de exercício físico é essencial para a saúde, nomeadamente para a prevenção cardiovascular, tanto primária como secundária. De facto, os múltiplos benefícios do exercício físico no controlo de fatores de risco cardiovascular e o seu papel como componente central dos programas de reabilitação cardíaca, é inquestionável. Apesar de praticar qualquer tipo de exercício ser sempre melhor do que não fazer nada, a sua prescrição deve ser individualizada, sobretudo na presença de doença cardiovascular.
A prescrição de exercício físico pode ser baseada em várias metodologias, cuja especificidade depende do objetivo, principalmente se for destinada a atletas de nível competitivo ou, por outro lado, a doentes com patologias cardiovasculares.
Para além do contexto específico da otimização do rendimento desportivo, existem detalhes que devem ser tidos em consideração para a prescrição de exercício na população geral, incluindo nos doentes com patologias cardiovasculares. Conhecer os antecedentes clínicos, o risco cardiovascular, os hábitos prévios de exercício e os objetivos pretendidos são pontos essenciais, devendo balancear-se a necessidade de se realizar uma avaliação clínica e complementar exaustiva versus incentivar a prática de exercício para reduzir os efeitos prejudiciais da inatividade física.
Uma metodologia simples que pode ser adotada na prática é a FITT, ou seja, definir a Frequência, a Intensidade, o Tempo (ou duração) e o Tipo de exercício. Para além destas variáveis, deve ser também valorizada a progressão, os interesses, a acessibilidade e a motivação individual na escolha da modalidade desportiva, o tempo disponível e eventuais condições clínicas que possam agravar com a prática de exercício ou nas quais este possa despoletar eventos clínicos graves.
Especificamente, na presença de patologia cardiovascular existem algumas contraindicações ou restrições para a prática de exercício, sobretudo no caso de doenças graves ou instáveis, sendo a variável mais relevante a controlar, neste contexto, a intensidade de exercício. Esta intensidade pode ser definida de acordo com vários métodos, mais ou menos objetivos, desde o talk test, fórmulas baseadas na frequência cardíaca (em repouso ou durante o esforço) ou, principalmente, usando dados da prova de esforço cardiorrespiratória (ex. tendo por base os limiares anaeróbios).
Em suma, recomendar a prática regular de exercício físico deverá constituir uma prioridade (e não uma exceção) na prevenção cardiovascular primária ou secundária. A avaliação clínica prévia, com estratificação de risco, a definição de eventuais restrições e a prescrição individualizada de exercício, tendo em atenção as suas múltiplas variáveis, entre as quais se destaca a intensidade, são aspetos fundamentais.
É essencial que o médico se constitua um agente de mudança para que a sociedade se torne fisicamente mais ativa, garantindo que seja possível ter os benefícios da prática de exercício, com a máxima segurança.
Cardiologista, Hospital da Luz Lisboa/NOVA Medical School