Não importa a idade que tenha, nunca é tarde para deixar de fumar: é sempre benéfico para a saúde, permitindo melhorar o prognóstico de doenças existentes. Se é fumador não deve esperar por ter sintomas para fazer exames regulares. A maioria dos cancros do pulmão pode ser evitada, através da redução de fatores de risco conhecidos.
É uma das perguntas mais frequentes dos fumadores com mais de 70 anos, na consulta de Pneumologia: “com esta idade, ainda se justifica deixar de fumar?”. A resposta é simples: não importa quantos anos tem ou durante quanto tempo fumou, ao parar está a reduzir o risco de cancro, doenças pulmonares, acidente vascular cerebral e ataque cardíaco – ou seja, está a acrescentar anos à vida.
Em média, os fumadores com elevada carga tabágica têm uma redução na esperança de vida de cerca de 13 anos. Os benefícios de deixar de fumar podem ser aplicados a todos os fumadores, independentemente da idade. No entanto, o ideal é motivar os grupos etários mais jovens a deixar de fumar.
A distâncias das consequências para a saúde dos jovens fumadores é um desafio. Já existe evidência de que aqueles que param de fumar antes de atingirem os 35 anos de idade apresentam taxas de mortalidade semelhantes aos que nunca fumaram. Se é um jovem fumador e quer evitar as consequências do tabagismo na saúde, esta é uma motivação para tentar deixar de fumar.
Se parar de fumar por volta dos 50 anos, diminuirá em 50% o risco de morrer de doenças relacionadas com o tabagismo. Mas, mesmo que decida fazê-lo mais tarde, nunca é tarde para deixar de fumar. É sempre benéfico para a saúde, e permite melhorar o prognóstico de patologias existentes, como a doença pulmonar obstrutiva crónica ou a doença cardíaca.
Os benefícios de deixar de fumar são evidentes logo a curto prazo mas, cerca de 10 anos depois, o risco de cancro do pulmão reduz para metade e, depois de 15 anos, o risco de ataque cardíaco é semelhante ao de um não fumador.
A idade em que se começa a fumar é um fator importante, havendo um risco particularmente elevado de morrer prematuramente de doenças cardiovasculares ou oncológicas entre as pessoas que começaram a consumir tabaco em idade muito jovem.
Tendo em mente que o número de anos de consumo e a quantidade de cigarros fumados estão diretamente relacionados com o aumento do risco destas doenças e que o risco de cancro do pulmão se mantém elevado nos 15 anos seguintes à cessação tabágica, é imperativo não esperar por ter sintomas, para fazer exames regulares. A elevada taxa de mortalidade e o sofrimento causado pela doença são fatores decisivos para a necessidade de deteção precoce do cancro do pulmão, numa fase em que ainda não há sintomas e o tratamento é mais eficaz.
Os programas de deteção precoce de cancro do pulmão destinam-se a pessoas consideradas de risco, com base na idade e na exposição ativa ou passada ao tabaco. Se tem entre 50 e 80 anos, é fumador com uma carga tabágica de, pelo menos, 20 unidades maço por ano – por exemplo, 20 cigarros por dia, durante 20 anos, ou 40 cigarros por dia, durante 10 anos, ou 10 cigarros por dia, durante 40 anos – ou deixou de fumar há menos de 15 anos, não espere por ter sintomas ou sinais e procure integrar um programa de deteção precoce de cancro do pulmão.
No dia da primeira consulta, será efetuada uma TAC de baixa dose, um exame rápido, sem contraste, que fornece informações detalhadas, incluindo o tamanho, a forma ou a localização de eventuais nódulos. Muitas vezes, os nódulos pulmonares são inofensivos e benignos – de facto, apenas cerca de 4% dos nódulos detetados nos exames de deteção precoce são malignos. Como tal, é fundamental a avaliação por um radiologista experiente e a integração numa equipa multidisciplinar, para, no caso de existirem nódulos suspeitos, investigarmos através de exames adicionais e orientarmos o doente para tratamento.
Se não houver nódulos suspeitos, deve fazer uma monitorização anual com TAC de baixa dose. Este exame não só deteta cancro do pulmão tratável precocemente, como também deteta outras alterações pulmonares e cardíacas que podem ser rapidamente encaminhadas para as respetivas especialidades.
Independentemente do resultado, o programa de deteção precoce não pode ser considerado uma “licença para fumar”, sendo fundamental a integração em consulta de cessação tabágica.
A maioria dos cancros do pulmão pode ser evitada, através da redução de fatores de risco conhecidos. Prevenir que os jovens iniciem o hábito de fumar é um objetivo, mas a mensagem aos fumadores sobre os benefícios de deixar de fumar, de preferência tão jovens quanto possível e antes do aparecimento de doenças graves, deve ser considerada uma prioridade.
Um artigo de Encarnação Teixeira, Pneumologista nos hospitais CUF Tejo e CUF Descobertas – Unidade de Cancro do Pulmão da CUF Oncologia.