Apesar de ser um problema muito comum nos dias de hoje, a maior parte das pessoas nunca ouviu falar de tecnostresse. O que é isto, afinal, e que implicações tem na nossa saúde mental?
Vivemos numa era digital em que grande parte das nossas atividades diárias são conduzidas a partir da tecnologia. Queremos ir àquela praia onde nunca fomos? GPS. Queremos conversar com aquela pessoa que não vemos há meses? Redes sociais. Queremos escrever um artigo de opinião? Computador. A tecnologia veio ajudar-nos em diversas áreas da nossa vida e ao longo dos anos temos vindo a desenvolver uma relação íntima com ela. Mas como em todas as relações existem as menos saudáveis.
Aqui entra o tecnostresse, quando a nossa relação com a tecnologia é disfuncional e nos causa mau estar e desconforto. Na realidade o tecnostresse é um dos efeitos negativos associado à tecnologia mais referenciado na literatura e é mais comum do que podemos pensar, no entanto, ainda não é muito falado na sociedade.
Para muitas pessoas a tecnologia pode ser vista como um estímulo stressor que conduz a respostas pouco saudáveis causadas pela incapacidade de lidar com as novas tecnologias, muitas vezes por falta de recursos pessoais.
A tecnofobia e a tecnofilia
Esta utilização desadaptativa pode repartir-se em dois polos: A tecnofobia e a tecnofilia. Como o nome indica, a tecnofobia consiste na ansiedade e no medo irracional face à tecnologia. Este medo pode estar associado, por exemplo, à utilização de computadores muito sofisticados no local de trabalho, em que a pessoa acha que não tem competências nem recursos para lidar com as mesmas.
Quando este medo é intenso, além dos sintomas orgânicos (palpitações, sudorese, entre outros) temos os sintomas comportamentais como o evitamento, em que a pessoa tenta evitar ao máximo o uso das máquinas tecnológicas. Estes comportamentos, muitas vezes, têm impacto ao nível da carreira e a nível pessoal.
A tecnofilia, por outro lado, consiste no entusiasmo e prazer ao usar a tecnologia. Isto pode ser bom, claro, pois vamos utilizá-la muito mais e ganhar competências que nos facilitem o seu uso. A adicionar a isto, a adaptação face às constantes atualizações a que estão sujeitas é feita de uma forma saudável e funcional. No entanto, se formos a extremos podemos chegar à adição.
Certamente já conhecemos alguém que não consegue passar 5 minutos sem mexer ou olhar para o telemóvel (até se torna complicado manter uma conversa cara a cara com essa pessoa) e que quando está sem bateria começa a demonstrar sintomas de ansiedade e de abstinência (a pessoa fica irrequieta, angustiada e com dificuldades de concentração, por exemplo).
Tal como todas as adições existentes no mundo da saúde mental, a adição à tecnologia pode ter um impacto negativo muito significativo na vida da pessoa, tanto pessoal como profissional.
É importante relembrarmo-nos da pandemia há tão pouco tempo vivenciada por todos, em que a única forma que tínhamos de continuar a trabalhar, estudar e socializar era sobretudo através do computador. Imaginemos o impacto que isto teve nas pessoas que tinham, previamente, uma relação disfuncional com a tecnologia, tanto de medo como de compulsão.
Realmente os estudos indicam que o confinamento e, mais especificamente, o teletrabalho, tiveram um impacto significativo nos níveis de tecnostresse, até mesmo para pessoas que não o tinham experienciado antes. Quando pensamos em medo intenso e adição, é importante pensarmos acerca do impacto que isto tem ao nível da saúde mental.
As pessoas que experienciam tecnostresse apresentam uma pior relação com a tecnologia e a perceção de fracas competências tecnológicas, além de baixa autoconfiança e pobres estratégias de regulação emocional. Dependendo do nível de stress e do contexto onde a tecnologia está inserida, a pessoa pode sentir-se preocupada, angustiada, pensativa e ansiosa.
Aquilo que se verifica nos vários estudos realizados sobre o tema é que o tecnostresse está associado a sintomas de ansiedade e depressão clínicas, o que torna de extrema importância a literacia sobre este tema, pois conhecendo os sintomas, conseguimos mais facilmente identificá-los em nós e nos outros e ficamos, assim, a um passo de pedir ajuda especializada.
Depois de ler este artigo online, acho que devia fazer uma pausa das tecnologias!
Por Inês Miranda Psicóloga clínica