A reabilitação vai incluir atividades cada vez mais desafiantes. Um artigo do fisioterapeuta Sérgio Loureiro Nuno.
O que é o AVC?
Acidente vascular cerebral, ocorre quando um vaso sanguíneo que transporta oxigénio e nutrientes para o cérebro se rompe (AVC Hemorrágico) ou ocorre quando um vaso sanguíneo que fornece sangue ao cérebro é obstruído (AVC Isquémico).
O AVC isquémico (coágulos) é responsável por 87% de todos os acidentes vasculares cerebrais.
Por outro lado, há dois tipos de vasos sanguíneos enfraquecidos que geralmente causam acidente vascular cerebral hemorrágico, que são os aneurismas e malformações arteriovenosas.
Segundo a American Stroke Association, 80% dos AVC são possíveis de prevenir. Mas como?
Evitando alguns fatores de risco, por exemplo:
– Hipertensão arterial
– Hábitos tabágicos e alcoólicos
– Sedentarismo
Os efeitos de um AVC dependem de diversos fatores, como a localização da lesão, a quantidade de tecido cerebral que foi afetado e o tempo que levou até ser diagnosticado. O cérebro tem áreas distintas que controlam a maneira como nos movemos e como sentimos/percecionamos. Assim, quando existe uma lesão numa determinada área, essa não vai trabalhar tão bem como antes – embora acabe por provocar alterações no funcionamento do cérebro como um todo. Podem passar a existir alterações na maneira como andamos, falamos, vemos ou até como nos sentimos. Possivelmente vão existir desafios com atividades do dia-a-dia como vestir, tomar banho, comer e mastigar, e também surgirão alterações na memória, emoções e compreensão do ambiente que nos rodeia.
Principais sinais
– Assimetria na face
– Falta de força num dos membros
– Dificuldade em falar
Sabia que?
Em 2019, as mortes por AVC representavam 9,8% da mortalidade em Portugal, havendo uma taxa de 106,5 mortes por cada 100 mil habitantes. As mortes por AVC foram mais comuns no sexo feminino, havendo 78 óbitos de homens por cada 100 óbitos de mulheres.
O papel da fisioterapia
O fisioterapeuta está presente em todas as fases pós-AVC: aguda, sub-aguda e crónica, nas quais o utente está inserido em meio hospitalar, unidades de reabilitação ou ambulatório – respetivamente. Assume objetivos diferentes em cada uma delas, tendo sempre em vista o aumento da funcionalidade do indivíduo, assim como a sua reintegração no meio familiar, laboral e social. A reabilitação deve ser iniciada precocemente (48 horas após a ocorrência), desde que o indivíduo se encontre estável. Grande parte da recuperação desenrola-se numa fase inicial e é influenciada pela idade e tamanho da lesão.
Os picos de recuperação verificam-se nos primeiros 3 meses pós-lesão, mas pode continuar a ocorrer melhoria das funções entre os 6 meses e os 3 anos após o AVC. O fisioterapeuta vai procurar, numa fase inicial, expor o indivíduo de forma gradual à gravidade e promover o seu correto posicionamento (sentado ou deitado) e manuseamento (maneira como é transferido, por exemplo). Começa-se então, desde o início, a prevenir o surgimento de estratégias compensatórias, tão comuns, que podem prejudicar imenso o potencial de recuperação que um utente possui.
Posteriormente, a reabilitação vai incluir atividades cada vez mais desafiantes, possibilitadas através da relação criada entre a estabilidade-mobilidade, adaptação do ambiente e informação sensorial adequada. Nunca perdendo pontos fulcrais como o posicionamento e manuseamento adequado do utente. O fisioterapeuta deve ainda promover em todas as fases pós-AVC a integração da família/cuidadores do indivíduo, facilitando o seu ensino para a condição.
Um artigo de Sérgio Loureiro Nuno, Fisioterapeuta, Professor Universitário e Investigador no Departamento de Ciências da Saúda da Universidade da Corunha.