A Sociedade Portuguesa de Pneumologia mostrou hoje preocupação com o risco de doença respiratória precoce nos jovens devido à utilização dos cigarros eletrónicos, após a OMS ter apelado para a “ação urgente” de controlo do consumo.
“Está provado que os cigarros eletrónicos danificam muito as defesas. (…) Estas infeções recorrentes nos jovens e nas crianças são um fator de risco para a doença crónica respiratória no adulto”, disse à agência Lusa a coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Sofia Ravara.
A também professora da Universidade Beira Interior falava depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter alertado hoje, no relatório ‘Electronic Cigarettes Call to Action’, para o “uso alarmante” de cigarros eletrónicos por crianças e jovens.
De acordo com a pneumologista, os cigarros eletrónicos provocam sintomas respiratórios como tosse, pieira, dificuldade respiratória, cansaço e agravam a asma, assinalando, por exemplo, que a lesão pulmonar aguda Evali “leva ao internamento hospitalar com necessidade de oxigénio”.
“Existem vários casos publicados que ocorreram na Europa e que evidenciam que a Evali (…) não aconteceu só nos Estados Unidos e aconteceu em utilizadores de cigarros eletrónicos com e sem nicotina independentemente de terem ou não o óleo de vitamina E ou canábis”, realçou.
Sofia Ravara recordou que o aumento do consumo de dispositivos inalados de nicotina são “altamente aditivos” e provocam “doença a médio longo prazo”.
Considerando o relatório da OMS “muito bem feito”, Sofia Ravara atentou também que as mulheres grávidas que usem cigarros eletrónicos estarão a pôr em causa a saúde e o desenvolvimento do feto.
“Terá implicações terríveis para o desenvolvimento do sistema nervoso central, porque a nicotina (…) é teratogenia (…) e pode levar a alterações do desenvolvimento do sistema nervoso central com implicações na aprendizagem, no rendimento cognitivo, mas também na saúde mental desta criança e futuro adulto”, sublinhou.
A especialista reiterou que a Sociedade Portuguesa de Pneumologia está “preocupada com a epidemia crescente dos cigarros eletrónicos”.
“Veio perpetuar a epidemia da adição à nicotina e com uma grande agravante que é ser usada por crianças, adolescentes, jovens, jovens adultos e, portanto, ser uma exposição muito precoce e (…) em regra quanto mais precoce é a exposição maiores são as consequências”, acrescentou.
Já a Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública alertou que os riscos da utilização de cigarros eletrónicos são reais, solicitando “medidas imediatas aplicando o princípio da precaução em saúde pública”.
“Estes dispositivos emitem aerossóis com substâncias tóxicas associadas ao desenvolvimento de cancro, representando riscos cardiovasculares, com potenciais impactos adversos no desenvolvimento cerebral de jovens e perigos para mulheres grávidas e muitos outros riscos ainda desconhecidos”, lembrou.
A OMS apontou para a necessidade de os países que proibirem a venda de cigarros eletrónicos reforçarem a aplicação da proibição e pediu aos que permitem a sua comercialização que garantam regulamentações rigorosas para reduzir o consumo, incluindo a proibição de todos os sabores, limitando a concentração e a qualidade da nicotina e tributando-os.