Quais os medicamentos que não deve mesmo tomar em jejum?
Na hora de prescrever medicamentos, os médicos costumam indicar se o doente deve ou não comer antes de os tomar. Alguns fármacos têm obrigatoriamente de ser tomados em jejum, outros podem ou não ser tomados de estômago vazio e outros devem ser ingeridos sempre com alimentos.
Em declarações ao Viral, um especialista em farmacologia e um especialista em Medicina Geral e Familiar explicam quais os medicamentos que não podem devem ser tomados em jejum e porquê.
Existem dois grupos de medicamentos que não podem ser tomados em jejum: os anti-inflamatórios não esteroides e os antidiabéticos orais. A administração destes fármacos sem alimentos pode ter consequências negativas para a sua saúde.
O anti-inflamatórios não esteroides – nos quais de inclui o ibuprofeno (comercialmente identificado como brufen), o aspegic e a aspirina – “podem provocar úlcera gástrica e do duodeno” quando administrados sem comida no estômago, diz ao Viral Rui Nogueira, presidente da mesa da assembleia geral da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde.
“Mesmo não havendo patologia de base, estes medicamentos podem provocar úlcera gástrica ou no duodeno – sendo mais comum a úlcera no duodeno. Por essa razão, é aconselhado que sejam tomados sempre com alimento”, prossegue o médico.
Rui Pinto, professor de Farmacologia da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, explica que, apesar de “atuarem na dor e no processo inflamatório”, os anti-inflamatórios não esteroides “inibem a produção de substâncias que protege o estômago”.
Para se evitar problemas ao nível do estômago, estes fármacos devem ser tomados “com muito volume de líquido ou com alimento”.
O segundo grupo de fármacos que não devem ser tomados em jejum é o dos antidiabéticos orais. O professor de farmacologia explica que alguns destes medicamentos “estimulam a produção de insulina” – a hormona que promove a entrada de glucose nas células para produzir energia.
“Se tomar um antidiabético oral em jejum, o organismo começa a libertar insulina e a tornar-se mais sensível, entre outros mecanismos, que levam a reduzir consideravelmente o nível de glicemia (glucose no sangue). O paciente pode ficar tonto, sentir-se mal e, numa situação extrema, pode até desmaiar”, explica Rui Pinto.
Também Rui Nogueira afirma que os antidiabéticos orais “carecem de uma alimentação logo após a sua toma”. O médico sublinha que “existem mais medicamentos para tomar em jejum, do que para evitar”.
A indicação sobre como deve ser administrado um determinado fármaco está descrita no folheto informativo que acompanha todos os medicamentos.
Rui Pinto destaca que “a melhor condição de administração do medicamento” é estudada pela indústria farmacêutica e “validade tecnicamente pelas autoridades competentes do medicamento, no caso nacional, pelo Infarmed”.
Quais os medicamentos que é melhor tomar com alimentos?
Noutro plano, há medicamentos que também não devem ser tomados de estômago vazio, porque a administração sem comida pode levar ao aparecimento de efeitos secundários.
Tanto Rui Nogueira como Rui Pinto identificam duas famílias de medicamentos cuja administração em jejum pode levar ao aparecimento de náuseas, enjoos ou vómitos: os analgésicos opióides ou de ação central e os contracetivos orais femininos (vulgarmente conhecidos como pílula).
Os analgésicos de efeito central “podem provocar algum enjoo, náuseas ou vómitos, se forem ingeridos sem alimentos”, explica Rui Nogueira. Sem a ingestão de alimentos, estes fármacos têm “uma absorção rápida e podem provocar efeitos secundários indesejáveis”.
Também no caso da pílula contracetiva, a toma em jejum pode aumentar o risco de efeitos secundários. Rui Pinto lembra que “tomar [a pílula] com alimento diminui a possibilidade do vómito ou da náusea”, mas ressalva que essa situação “depende de pessoa para pessoa”.
“As alterações hormonais podem induzir náuseas, mas não é uma situação muito frequente. Se tomar a pílula com alimentos pode atenuar as náuseas”, explica.
No caso dos antibióticos não há uma regra. “Depende de antibiótico para antibiótico”, diz Rui Pinto. Cada antibiótico pode atuar de forma diferente e os alimentos podem ou não interferir com a concentração destes fármacos no local da infeção. O especialista lembra que há “antibióticos cuja absorção pode ser favorecida com o alimento”.
“Tudo tem a ver com a biodisponibilidade da substância ativa que pode ou não ser afetada pela presença de alimentos”, ou seja, a quantidade da substância que chega à corrente sanguínea para fazer o efeito.
Há ainda fármacos cuja administração em jejum “não tem lógica”, uma vez que o seu efeito implica ter alimentos no estômago. É o caso, por exemplo, dos antiácidos – usados para situações de azia ou de refluxo gástrico. Rui Nogueira esclarece que o efeito destes fármacos está associado ao processo digestivo.
“Não é por fazer mal, é porque o seu efeito é necessário quando há alimentos no estômago”, afirma o presidente da mesa da assembleia-geral da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde.
Em conclusão, os medicamentos que deve mesmo evitar tomar em jejum são os anti-inflamatórios não esteroides e os antidiabéticos orais. É aconselhável que tome também os analgésicos de efeito central e os anticoncepcionais femininos orais com comida, principalmente se costuma sentir efeitos secundários.
Em caso de dúvida, deverá consultar o folheto informativo do medicamento, que contém as informações sobre a toma correta de cada fármaco ou perguntar ao seu médico ou farmacêutico.