Com a chegada do frio e dos dias com menos luz solar, é possível que se sinta mais triste e com menos energia para sair de casa, para trabalhar ou até para se levantar da cama. Mas será que isso significa que pode ter depressão sazonal ou são apenas sentimentos negativos passageiros? O que é a depressão sazonal? Quais os sintomas e como tratar?

João Palha, psiquiatra e diretor clínico da Casa de Saúde Santa Catarina (CSSC), responde a todas as questões.

O que é a depressão sazonal?

Tal como se explica num guia explicativo publicado no balcão digital do Serviço Nacional de Saúde (SNS 24), “a depressão sazonal é uma forma de depressão que surge periodicamente relacionada com as estações do ano”.

Segundo João Palha, apesar de não haver muitos estudos sobre a depressão sazonal, também conhecida por perturbação de humor sazonal, em teoria, pensa-se que “poderá estar ligada com as alterações de luz solar” durante as mudanças de estação.

Isto pode acontecer, sobretudo, “na mudança para o outono e para o inverno, em que há menos luz durante o dia”, salienta o médico.

Aliás, prossegue, “em todas as regiões longe do Equador, onde há menos luz, é mais comum haver depressões”, nomeadamente “depressões sazonais”.

Por outro lado, também “é possível acontecer o contrário”, ou seja, verificar-se quadros de depressão sazonal “quando passamos a ter mais luz, na primavera”. No entanto, esclarece, é “muito mais comum a depressão aparecer com a diminuição da luz”.

Isto porque, nesse contexto, “há alterações da neurotransmissão relativamente à diminuição da luz que o corpo e o cérebro recebem todos os dias”, pois “o cérebro produz mais melatonina e menos serotonina”.

Num texto informativo, publicado no site do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH, na sigla inglesa), refere-se que a serotonina “ajuda a regular o humor”.

De facto, explica-se, “a investigação também sugere que a luz solar afeta os níveis de moléculas que ajudam a manter os níveis normais de serotonina”.

Por esse motivo, “as horas de luz do dia mais curtas podem impedir que estas moléculas funcionem corretamente, contribuindo para a diminuição dos níveis de serotonina no inverno”.

Além disso, “a deficiência de vitamina D pode agravar estes problemas” nas pessoas com depressão sazonal no inverno, “pois acredita-se que a vitamina D promove a atividade da serotonina” e parte desta vitamina é obtida através da luz solar.

Segundo o mesmo texto, existem ainda estudos que sugerem que ambas as formas de depressão sazonal (no inverno e no verão) “estão relacionadas com níveis alterados de melatonina – uma hormona importante para manter o ciclo normal de sono-vigília”.

Os doentes com depressão sazonal no inverno “produzem demasiada melatonina, o que pode aumentar a sonolência e levar a dormir demais”.

Já as pessoas que desenvolvem esta condição no verão “podem ter níveis reduzidos de melatonina, o que é consistente com os dias longos e quentes que pioram a qualidade do sono e conduzem a sintomas de depressão”, acrescenta-se.

Importa salientar que o conhecimento sobre a depressão sazonal não é extenso nem robusto. João Palha lembra que este termo é uma “tentativa teórica de explicar porque é que as pessoas têm quadros depressivos nestas alturas do ano”.

No mesmo sentido, no texto do NIMH, destaca-se que “estas teorias não foram testadas de forma sistemática”.

Os sintomas da depressão sazonal são diferentes dos da depressão convencional?

Em primeiro lugar, importa distinguir a depressão de sentimentos negativos passageiros. O que distingue uma situação da outra é a intensidade e a duração dos sintomas, ou seja, a tristeza e os outros sentimentos negativos passam a ser um problema quando são muito intensos e não passam com o tempo.

Quando uma pessoa tem depressão sazonal tem sintomas muito semelhantes aos de uma depressão convencional. Há, no entanto, dois sintomas diferentes, na perspetiva de João Palha.

A depressão sazonal caracteriza-se por “um aumento do apetite” e, por norma, “não há insónias”, “ou o sono não é alterado, ou a pessoa dorme mais”, salienta.

Os restantes sintomas – como “tristeza, falta de energiairritabilidade, dificuldade de concentração” – são muito semelhantes aos verificados na depressão convencional.

Outros sintomas que se podem verificar num quadro de depressão sazonal, segundo um texto do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa), são: “perda de prazer ou interesse em atividades quotidianas normais”; “sentimentos de desespero, culpa e inutilidade”; e “diminuição do desejo sexual”.

Para algumas pessoas, alerta o NHS, “estes sintomas podem ser graves e ter um impacto significativo nas suas atividades diárias”.

Como tratar a depressão sazonal?

Antes de explicar em que consiste o tratamento, João Palha refere a importância de se atuar numa perspetiva preventiva. “Tentar sair e apanhar luz solar” e permitir que “as janelas de casa deixem passar a luz, sem cortinas”, são medidas protetoras importantes.

Numa fase de tratamento, recorre-se a ferramentas semelhantes às usadas no tratamento da depressão convencional: “a psicoterapia” e a “medicação”, com antidepressivos.

No contexto de depressão sazonal no inverno, recomenda-se ainda a “fototerapia”, que consiste em “expor o corpo a uma lâmpada com uma luz muito forte, todas as manhãs”, adianta o psiquiatra.

De acordo com informação publicada no site da Associação Americana de Psiquiatria (APA, na sigla inglesa), esta lâmpada “filtra os raios ultravioleta (UV) nocivos” e, por norma, “são necessários 20 minutos ou mais por dia” de exposição.

A maioria das pessoas “vê algumas melhorias com a terapia de luz dentro de uma ou duas semanas após o início do tratamento”, acrescenta-se.

Além disso, refere João Palha, quando há um histórico ou tendência para desenvolver depressão sazonal, “há até quem faça fototerapia nos meses com menos luz, para prevenir” um quadro depressivo.

De: https://viral.sapo.pt/