Será que os “novos” cigarros, que vieram substituir o tabaco mais convencional, como o tabaco aquecido e os cigarros eletrónicos, vieram suavizar os malefícios do tabaco tradicional, e da própria nicotina, ou isso não acontece? Fomos perguntar ao pneumologista Dr. Luís Rocha.
Os jovens são particularmente atraídos pela novidade e pelas novas tecnologias, pela perceção de menor risco que os cigarros tradicionais e variedade de aromas disponíveis.
Nos EUA o uso de cigarro eletrónico nos jovens tem sido crescente, a partir de 2014 tem sido o principal produto de tabaco nesta faixa etária e também a maioria mantêm consumo de cigarros convencionais em ambos os sexos (dados do Eurobarómetro).
As razões para experimentar ou utilizar regularmente e segundo estes dados são: ajuda na cessação tabágica (61%), menos prejudicial que os cigarros convencionais (31%), mais baratos (25%) e usar em locais “livres de fumo” (15%).
Faltam dados a longo prazo para o conhecimento dos efeitos na saúde do tabaco aquecido e cigarro eletrónico e o impacto real em termos de risco para o desenvolvimento das várias patologias (oncológicas, respiratórias, cardiovasculares, etc.).
O duplo consumo cria a falsa expectativa de redução de risco de doenças e 60 a 80% dos consumidores de cigarros eletrónico ou tabaco aquecido continua a fumar cigarros.
A posição das sociedades médicas têm sido hesitante e cautelosa, devido à escassa consistência dos resultados obtidos.
A Organização Mundial de Saúde tenta condensar a investigação disponível relativa ao impacto na saúde e preocupação relativamente à extensa publicidade que os envolve, nomeadamente em relação aos jovens e não fumadores.
A European Respiratory Society (ERS), recomenda que apesar de poderem ser menos prejudiciais para os fumadores, no entanto continuam a ser prejudiciais e altamente aditivos e pode haver o risco de os fumadores mudarem para tabaco aquecido em vez de deixarem de fumar. A ERS não pode recomendar qualquer produto que cause dano aos pulmões e à saúde das pessoas.
A Sociedade Portuguesa de Pneumologia, esclarece que os cigarros eletrónicos têm risco para a saúde que lhe são próprios, não são inofensivos e nem sempre resultam em reduzir o consumo de tabaco, desincentivar o seu uso e abordar com os métodos de cessação convencionais.
A maioria dos fumadores quer deixar de fumar e 50 a 93% gostaria de deixar de fumar para “voltar a ter controlo”. Apenas 10% dos fumadores não quer deixar de fumar.
Os produtos de tabaco aquecido (PTA) contêm nicotina, substância altamente aditiva e que provoca dependência e outros produtos que são adicionados, aumentando assim a atratividade ao consumo, como seja os açucares e aromas (mentol, café, chocolate, banana, manteiga, canela, cravo, eucalipto, menta, morango, baunilha, entre outros).
Atualmente, a experimentação e uso de PTA pelos adolescentes e jovens está a sofrer um crescimento exponencial e já se demonstrou que aumenta o risco de iniciação ao consumo de cigarros tradicionais e noutras drogas para além do risco de renormalização do tabagismo e da epidemia da nicotina, através do uso duplo com os cigarros convencionais.
Substâncias inaladas no tabaco aquecido e nos cigarros eletrónicos são perigosas para a saúde
A questão levantada se são menos prejudiciais, os estudos indicam que por exemplo que o nível de nitrosaminas, um agente carcinogéneo que é inalado no aerossol produzido embora em menor número também estão presentes e muitos outros agentes em que não se conhecem ainda o seu efeito:
- Propilenoglicol – 70 a 90% responsável pelo vapor e inodoro, podendo causar irritação ocular, respiratória e aumentar o risco de asma;
- Glicerina vegetal – casos de pneumonia lipóide não sendo segura quando inalada.
- Propilenoglicol e glicerina após aquecimento formam um conjunto de substâncias como o oxido de propileno, uma substância cancerígena.
- Nicotina – sem ou em concentrações variáveis,
- Aromas – variáveis e com mistura de produtos químicos,
- Outros – nitrosaminas, compostos orgânicos voláteis (benzeno e tolueno) e metais (cádmio, níquel e chumbo).
Compostos do cigarro eletrónico em comparação com o cigarro convencional
Apesar das primeiras publicações publicadas pela indústria tabaqueira mostrarem menor proporção de substâncias tóxicas, a investigação independente mostrou que existem outras tantas substâncias nocivas em maior quantidade e já existem vários estudos que mostram efeitos prejudiciais a vários níveis.
O uso de PTA está associado com significativa toxicidade pulmonar e imunomoduladora (alteração do sistema imune) e sem diferenças em relação a fumadores de cigarro convencionais ou fumadores que trocaram para esses produtos.
O cigarro eletrónico, os estudos indicam que os efeitos na saúde provocam aumento da libertação de mediadores da inflamação, de infeções, de sintomas respiratórios e asma.
Os efeitos citotóxicos são também conhecidos e simpaticomiméticos, com estimulação do sistema nervoso central (taquicardia, hipertensão, aumento da temperatura corporal, do tónus muscular, dilatação da pupila, etc.).
A nicotina aumenta o risco cardiovascular e estudos indicam também um risco aumentado de hepatotoxicidade. Os problemas de saúde oral como o mau hálito e a gengivite também podem estar presentes com o uso destes dispositivos.
O duplo consumo de cigarros convencionais e cigarro eletrónico, mesmo que em número reduzido, pode levar à falsa expectativa de redução do risco de doenças relacionadas com o tabaco – e quanto a isso ainda não há evidência, nem estudos.
Um fumador que reduza de 20 cigarros/dia para 10 cigarros/dia, reduz em 50% o seu consumo, reduz em 50% a despesa com o tabaco, mas a redução do risco de doenças atribuíveis ao tabaco é desproporcionalmente inferior à redução do consumo. Por exemplo, redução de consumo de cigarros em 50%, reduz risco de neoplasia pulmonar em 25%.
O consumo de apenas 1-4 cigarros/dia aumenta significativamente o risco de morte por doença coronária; o consumo de cigarro eletrónico aumenta o risco de enfarte agudo do miocárdio (EAM), embora menor que o associado ao consumo de cigarros convencional, mas se o consumo é duplo, o risco de EAM é ainda maior.
A glicerina e o propilenoglicol, presentes no líquido vaporizado, são substâncias que podem causar irritação nos pulmões (exemplo da asma e bronquite), além de outros problemas respiratórios. Já a nicotina causa dependência e aumenta o risco cardiovascular. Os aromatizantes presentes nos líquidos podem ser tóxicos e causar problema à saúde.
Os perigos destes “novos” cigarros
A realidade é que diversos estudos apontam que o líquido vaporizado por estes dispositivos contém produtos que podem ser prejudiciais à saúde, como a glicerina, o propilenoglicol e a nicotina que é uma substância altamente viciante, para além de diversos aromatizantes. Estes dispositivos eletrónicos para fumar com diferentes formatos e mecanismos, são sistemas que aquecem um líquido mediante uma bateria para criar aerossóis que são inalados. O líquido utilizado contém aditivos com sabores, inúmeras substâncias tóxicas e a nicotina que é a droga que causa dependência. As substâncias tóxicas causam cancro, doenças respiratórias e cardiovasculares.
Nenhum dispositivo eletrónico para fumar é seguro.
Os novos cigarros não são mais “amigos” dos fumadores passivos
O líquido é constituído por propilenoglicol numa percentagem entre 70 a 90%, sendo o responsável pelo vapor que se vê a sair do cigarro eletrónico e que algumas pessoas confundem como sendo fumo. Lembrar também que apesar da glicerina ser usada há muitos anos na indústria e consumida de forma segura das mais diversas formas, isso ocorre através da ingestão ou absorção pela pele, mas não pela inalação.
Estes dispositivos eletrónicos, contém diferentes quantidades de substâncias tóxicas de baixo peso molecular e metais pesados, o que aumenta as concentrações no ar de material particulado e nicotina em ambientes internos, logo o efeito direto no utilizador é substancialmente superior a quem se expõe, mas não inócuo.