As emoções são uma dimensão fundamental da existência e comportamento humano. É inevitável que se fale de emoções quando falamos de Inteligência Artificial. Ou seja, o ser humano precisa de Inteligência Emocional (IE) para interagir de forma eficiente e segura com a Inteligência Artificial (IA). Se, por um lado, temos o desafio de que a tecnologia da IA não vem munida de emoções, por outro, não podemos esquecer que a IA veio para ficar e que terá de ser incorporada na nossa vida, sem diabolização ou romantização.
Vamos partir da premissa que o mercado de trabalho está a mudar e que estamos perante uma revolução, porventura comparada à revolução industrial. Não podemos competir com a capacidade, velocidade e precisão de processamento de uma máquina que recolhe e analisa uma gigantesca quantidade de dados, sem se cansar nem fazer pausas. Mas um computador não dá abraços nem cria empatia. Aliás, como li, recentemente, no trabalho de Megan Beck & Barry Libert, “aqueles que se queiram manter relevantes nas suas profissões, terão de se focar nas competências e capacidades que a Inteligência Artificial mais dificilmente pode replicar: a capacidade de compreender, motivar, e interagir com outros seres humanos”.
De facto, a IA tal como a IE terão um impacto incontornável na educação e no mundo laboral: se por um lado este avanço tecnológico substitui muitas tarefas antes realizadas pelas pessoas, por outro, são as pessoas emocionalmente inteligentes que se evidenciarão e dificilmente serão substituídas pois tendem a ter um melhor desempenho no trabalho, são mais capazes de lidar com pressões, colaborar com pares e liderar equipas.
A IA não tem autoconsciência nem autocrítica, não sente e, por muito que seja mais rápida e sempre eficiente (embora não isento de enviesamento), precisará sempre que, nós, façamos o que fazemos melhor – interpretar os dados, em função da nossa natureza humana e conhecimento técnico.
A nossa Saúde Mental terá, com a existência e crescimento da IA, novos e diferentes desafios, mas também oportunidades. Tranquiliza-me saber que a IA veio para facilitar muito as nossas vidas mas que nunca nos substituirá.
A conexão é uma vertente importante: sentir-me visto e fazer o outro sentir-se visto. E se a Inteligência Artificial não sente, também não se conecta e, por isso, não responde a esta necessidade básica enquanto ser humano e social: a conexão.
Um artigo de Cláudia Adão, Psicóloga e Diretora Clínica da Integral Saúde Mental.