Com a chegada do frio, os aquecedores e os aparelhos de ar condicionado começam a trabalhar em muitas casas. E apesar de, atualmente, existirem aparelhos em conta que aquecem um espaço fechado de forma eficaz, algumas pessoas preferem utilizar as lareiras tradicionais. Mas haverá riscos para a saúde associados à exposição do fumo das lareiras? Quais os cuidados a ter durante a exposição?
Quais os riscos para a saúde associados à exposição ao fumo da lareira?
Em declarações ao Viral, Vânia Caldeira, pneumologista e especialista da Comissão de Trabalho de Patologia Respiratória do Sono da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPN), começa por explicar que, no caso da exposição ao fumo de lareiras, “é sempre muito difícil medir” o risco.
Mesmo quando está em causa “uma exposição tabágica” não é fácil “quantificar” o risco, apesar de, nestas circunstâncias, haver “marcadores subjetivos” que ajudam, como “o número de maços que a pessoa fuma por dia e por ano”, esclarece.
O risco para a saúde associado à exposição a lareiras tem “muitas condicionantes”, como “o que está a ser utilizado na lareira, o tamanho da lareira”, etc.
No entanto, prossegue a médica, sabe-se que “a exposição à biomassa, uma fonte de energia biológica – fala-se, tipicamente, da madeira, mas também podem ser os resíduos florestais ou os dejetos animais” -, tem consequências para a saúde.
O risco vai depender se está em causa “uma exposição crónica” ou “uma exposição aguda ou pontual”, salienta.
Exposição crónica
Está demonstrado, em termos de “evidência científica, que a biomassa, quando utilizada de forma continuada (crónica), causa, de facto, doenças”.
Este tipo de exposição é comum, sobretudo, “em países em desenvolvimento, em que se usa a biomassa de forma regular, como fonte primária para aquecimento e para cozinhar”, esclarece Vânia Caldeira.
Em termos de consequências concretas para a saúde, sabe-se que a exposição crónica à biomassa “é um fator de risco identificado e comprovado para o desenvolvimento de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC)”.
Segundo um texto informativo da Organização Mundial da Saúde (OMS), a DPOC “é a quarta principal causa de morte no mundo”. Esta doença sem cura provoca “tosse, às vezes, com expetoração, dificuldade em respirar, chiado e cansaço”, refere-se.
Apesar de o tabagismo ser responsável por “mais de 70% dos casos”, “a poluição do ar doméstico é um grande fator de risco” para a DPOC, lê-se no mesmo texto.
Tal como explica Vânia Caldeira, existe evidência robusta “a relacionar o desenvolvimento de asma com a poluição”, mas não há muitos estudos que façam uma relação direta da asma com a biomassa.
Ainda assim, é um princípio de prudência ter cuidados nesse sentido, sobretudo com as crianças, que “são um grupo de risco”, pelo facto de os seus “pulmões ainda estarem em maturação”.
Além disso, a exposição à biomassa pode contribuir para o desenvolvimento de “cancro do pulmão” e para o “aumento de infeções, como, por exemplo, a tuberculose”, salienta.
As grávidas também devem evitar esta exposição, uma vez que, nessas circunstâncias, “correm um maior risco de ter complicações e do bebé nascer com pouco peso”, por exemplo.
Quando se fala em exposição crónica também se incluem as pessoas que só acendem as lareiras durante os meses mais frios do ano.
“As pessoas que dependem da utilização da biomassa como fonte primária para se aquecerem no inverno têm uma exposição crónica e têm de ser abordadas como tal”, defende a pneumologista.
Exposição aguda ou pontual
Noutro plano, a exposição aguda ou pontual – por exemplo, durante os dois dias do Natal – também acarreta riscos, apesar de serem diferentes.
As pessoas com doenças respiratórias, como a DPOC ou a asma, quando expostas à biomassa de forma aguda, “correm o risco de agravar a doença”, aponta.
Vânia Caldeira considera ainda importante salientar “o risco de intoxicação por monóxido de carbono” associado às lareiras.
Este gás não tem cor “nem cheiro” e “é produzido sempre que se queima combustível em automóveis ou camiões, pequenos motores, fogões, lanternas, grelhadores, lareiras, fogões a gás ou fornos”, refere-se num texto dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla inglesa).
Quando o monóxido de carbono é libertado e “se acumula em ambientes fechados e pouco arejados” pode causar intoxicação “sem que a pessoa se aperceba”, avisa Vânia Caldeira.
Começa por dar “dores de cabeça e tonturas” e, eventualmente, a pessoa “pode mesmo perder a consciência e acabar por morrer”, assinala.
Cuidados a ter na exposição ao fumo de lareiras
Em primeiro lugar, defende Vânia Caldeira, “a exposição crónica” ao fumo das lareiras faz mal à saúde, por isso, “deve ser evitada, sem dúvida”.
Por outro lado, a exposição pontual, por exemplo, “feita nos dois dias do Natal, pode ser feita”, desde que se proteja “os doentes respiratórios” e se tenha alguns cuidados.
Num contexto em que há “doentes respiratórios”, “grávidas” e “crianças doentes”, o ideal “é nem sequer acender a lareira”, defende a especialista.
Em termos de cuidados a ter durante a exposição ao fumo de lareiras abertas, é fundamental “manter a maior distância possível da lareira ou da braseira”, aponta.
Enquanto a lareira está acesa, é fundamental “assegurar que há uma boa ventilação”. Isto pode ser feito ao abrir-se uma janela.
Antes de dormir, deve-se “garantir que a lareira está bem apagada, precisamente por causa da questão do monóxido de carbono”, prossegue.
Além disso, é muito importante que, “todos os anos, seja feita a manutenção das lareiras por alguém especializado”.
Segundo Vânia Caldeira, uma alternativa mais “amiga” da saúde para as pessoas que gostam de ter lareiras em casa é optar por “lareiras fechadas ou salamandras”. O risco associado à exposição, neste caso, é menor.
Também existem “dispositivos no mercado que fazem um doseamento mais ou menos fiável da quantidade de gases no ar, como o monóxido de carbono”. Investir nestes produtos “pode ser uma forma de as pessoas estarem tranquilas e sentirem-se seguras”, conclui.