É comum em períodos de maior tensão ou ansiedade, recorrermos a várias estratégias que nos permitem acalmar, tranquilizar e manter o equilíbrio.
Algumas estratégias são utilizadas de forma clara, voluntária e proativa por nós, como por exemplo, os exercícios de respiração ou o exercício físico para libertar a tensão.
Mas, por outro lado, há estratégias a que recorremos quase que sem darmos por isso e sem controlo aparente da nossa parte, estratégias que por vezes nos incomodam, mas que surgem na busca deste serenar interno, como por exemplo aquilo a que chamamos vulgarmente de tiques.
Os tiques – desde que não associados a outras condições médicas – refletem uma significativa agitação psicomotora. No fundo, surgem quando dentro de nós há padrões elevados de angústia, de tensão ou de stress a que não somos capazes de, em tempo real, dar um significado e gerir.
Como não o fazemos, os níveis de mal-estar vão-se acumulando e tudo aquilo que não é expresso pela palavra ou elaborado pelo pensamento, vai acabar por ter de sair de dentro de nós e ter de se expressar. Assim, o nosso corpo procura uma forma de se libertar e começam, gradualmente, a surgir os tiques.
Assim, os tiques assumem uma função que nos tranquiliza e nos acalma, quando por exemplo, mexemos com frequência no cabelo, piscamos os olhos, ou abanamos os pés enquanto estamos sentados. Banalizamos estes movimentos ‘involuntários’, atribuindo-lhes a força do hábito.
Mas, por trás desses movimentos, está sempre alguma coisa dentro de nós que precisa de ser ouvida, que precisa de ser sentida e que precisa de se expressar de forma clara.
Quando conseguimos descobrir de que é que estamos a ‘fugir’, o que é que está a causar-nos tanto stress e angústia, os tiques que apareciam com a função de nos serenar, vão ter tendência a dissipar-se porque deixam de se tornar necessários.
Assim, para gradualmente eliminar os tiques comece por olhar para as várias áreas da sua vida e do seu dia a dia para perceber o que é que está a tentar esconder de si próprio, o que está a causar esses “ruído de fundo” e que não está a permitir-se a pensar sobre isso. Pois, identificar será sempre o primeiro passo, para que, depois, consiga expressar e gerir a situação de forma eficiente e equilibrada.
Só ouvindo-se a si próprio, poderá criar espaço para diminuir a agitação psicomotora e, por consequência, os tiques.
Um artigo das psicólogas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.