As zoonoses são doenças dos animais transmissíveis ao homem, quer por contacto direto quer por via indireta através de produtos alimentares de origem animal. Cerca de 65% das doenças dos animais são transmissíveis ao homem e 75% das doenças do homem são transmitidas por animais.

Raiva

A raiva é uma zoonose grave, estando Portugal livre desta doença desde 1956. A vacinação antirrábica é obrigatória nos canídeos. A raiva é uma doença fatal, causada pelo vírus Lyssavirus, que afeta todos os animais mamíferos e também os seres humanos.

Esta doença mata mais de 50.000 pessoas e milhões de animais em todo o mundo anualmente. A raiva é endémica na América Central e do Sul, Ásia e África. A saliva constitui a sua principal forma de transmissão. O vírus entra no organismo através do contacto da saliva com ferimentos da pele ou mucosas.

A transmissão ao Homem ocorre geralmente através da mordedura de animais infetados como por exemplo cães, gatos, morcegos, entre outros. A vacina é a única forma de prevenção.

Leishmaniose

A leishmaniose canina é uma doença parasitária causada por um protozoário do género Leishmania (L. infantum) e transmitida pela picada de mosquitos do género Phlebotomus. Em Portugal surge esporadicamente em todo o país.

Esta doença não se transmite diretamente de um animal doente ao homem, mas apenas pela picada do inseto, afetando habitualmente indivíduos com o sistema imunitário deprimido ou imaturo, nomeadamente crianças.

Equinococose/hidatidose

A equinococose canina é uma doença causada por um parasita intestinal, o Echinococcus granulosus, um céstode que tem o cão como hospedeiro definitivo. É vulgarmente conhecida por “doença do pêlo do cão”, uma vez que este, quando parasitado, ao lamber-se, pode espalhar na sua pelagem ovos, que podem ser ingeridos, caso não haja uma adequada higiene das mãos e respeito pelas regras básicas de biossegurança.

O cão infeta-se (com equinococose) comendo vísceras de animais mortos com quistos, principalmente ovinos, caprinos, bovinos e suínos. O homem e outros animais infetam-se (hidatidose) pelo contacto direto ou indireto com fezes de cães com parasitas adultos contendo ovos (os ovos não são visíveis a olho nu).

A insuficiente lavagem das mãos após contacto com um cão parasitado, a ingestão de alimentos conspurcados ou o contacto com objetos contaminados com ovos pode levar à transmissão desta doença.

No homem e outros hospedeiros intermediários, os ovos rompem-se no intestino, e a larva perfura a parede e atinge a circulação sanguínea, ou migra chegando ao fígado, onde em 70% dos casos forma quistos, podendo invadir o tecido pulmonar ou o cérebro.

Sarna

A sarna sarcóptica ou escabiose canina, causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei, é altamente contagiosa para outros cães e para o Homem. Nos gatos o tipo de sarna contagiosa para o Homem é a sarna notoédrica causada pelo Notoedres cati. A transmissão para outros animais e Homem é feita através do contacto directo com um animal infetado ou com o seu ambiente envolvente. A sarna sarcóptica provoca prurido, eritema, queda de pelo, crostas e escoriações. As áreas mais afetadas são a cabeça, ponta das orelhas, olhos, abdómen, cotovelos, podendo evoluir para qualquer região do corpo se não for tratada.

A Queiletielose ou sarna causada pelo ácaro Cheyletiella, conhecida como “caspa ambulante”, é também uma zoonose altamente contagiosa. É o tipo de sarna menos severo em cães e gatos. A transmissão ocorre por contacto físico frequente e direto da pessoa com o animal infetado, com o ambiente ou objetos que tiveram contacto com o animal. Os ácaros são vistos na pele do dorso do animal como pequenas escamas ou caspa. Causa prurido, vermilhão na pele e pelagem baça e quebradiça.

Tinha ou dermatofitísase

A “tinha” ou dermatofitíase é uma infeção por fungo que costuma afetar o pêlo, as unhas e as camadas superficiais da pele. Os tipos mais comuns de fungos observados em cães e gatos são o Microsporum canis, o Trichophyton mentagrophytes e o Microsporum gypseum. Os animais entram em contacto com os esporos infetados dos fungos, tanto em ambientes internos quanto externos. O solo contaminado é uma fonte comum da infeção, bem como outros animais infetados com “tinha”.  Nem todos os animais que são expostos aos esporos do fungo desenvolvem a infeção, e mesmo que esta ocorra, o cão ou gato podem não apresentar sinais clínicos da doença, sendo apenas um portador assintomático.

Toxoplasmose

A infeção pelo protozoário Toxoplasma gondii ocorre numa série de animais de sangue quente (coelhos, aves, porcos, cães, gatos, etc), incluindo o Homem. Os gatos são o único hospedeiro definitivo, onde ocorre o ciclo sexual do parasita e a única espécie capaz de transmitir a doença ao Homem. Os gatos infetam-se através da ingestão de roedores ou de carne crua.

Quando infetados, o parasita multiplica-se nas células do intestino eliminando oocistos que saem nas fezes para o ambiente. Estes oocistos (passadas 48 a 72 horas) esporulam e tornam-se infetantes. A infeção no Homem ocorre através de ingestão de água e/ou alimentos contaminados. A infeção nos seres humanos raramente dá sintomas ou complicações, exceto se estiverem com o sistema imunitário comprometido. A infeção do feto humano através da placenta (infeção da grávida e passagem para o feto) pode ser fatal para o gestante.

Leptospirose

Conhecida como a doença dos ratos, a leptospirose é causada pela bactéria Leptospira spp., que afeta a maior parte dos animais, inclusivamente o Homem. A bactéria é eliminada na urina de animais infetados (roedores) e sobrevive em ambientes húmidos. Transmite-se ao Homem diretamente através do contacto com urina de roedores ou indiretamente com o contacto de alimentos ou águas contaminadas com urina.

Um cão pode ficar infetado se beber, nadar ou andar sobre água contaminada, comer alimentos contaminados com urina de rato, ingerir roedores ou outros animais doentes. Se doente, o seu cão pode transmitir-lhe a infeção se entrar em contacto com a urina dele. Já a pessoa, se infetada, não transmite a doença.

A doença é grave e altamente fatal se não vacinar o seu cão. A ocorrência da doença nas pessoas, conhecida como “Doença de Weill”, é rara, mas pode provocar sintomas como febre alta, dor de cabeça, dores musculares, vómitos, diarreia e dor abdominal. Sem tratamento, esta patologia pode ser fatal.

As informações são da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária e da Clínica Veterinária de Mangualde.

De: https://lifestyle.sapo.pt/saude