Uma redução global de infeções e mortes, prevenção e tratamentos eficazes… a luta contra o HIV e a SIDA avança, apesar do fim da epidemia continuar a ser um objetivo distante.
Este é o cenário atual, a pouco dias do Dia Mundial de Luta Contra a SIDA, que acontece no próximo domingo, dia 1 de dezembro.
Diminui o número de novas infeções
Durante a década de 2010, o número de novas infeções pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) caiu um quinto a nível mundial, de acordo com um extenso relatório publicado esta terça-feira, dia 26 de novembro, no The Lancet HIV.
As mortes, geralmente causadas por doenças oportunistas quando a SIDA manifesta-se na fase final da infeção, foram reduzidas em aproximadamente 40%, e ficaram claramente abaixo de um milhão por ano.
Esta tendência deve-se principalmente a uma melhoria notável na África Subsaariana, a região do mundo mais afetada pela epidemia da SIDA.
No entanto, o quadro continua desigual, uma vez que as infeções aumentam em outras regiões, como no Médio Oriente e no leste da Europa. Ainda estamos longe dos objetivos da ONU, que pretende erradicar quase completamente a epidemia até 2030.
Ferramentas eficazes
Um ponto sobre o qual os especialistas em VIH concordam é em relação à importância dos tratamentos preventivos, conhecidos como PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), que se tornaram ferramentas cruciais no combate à epidemia.
Estes tratamentos, realizados por pessoas não infetadas, mas com comportamentos considerados de risco, são altamente eficazes na prevenção da infeção.
Por isso, os especialistas defendem a sua expansão. Em França, por exemplo, as autoridades de saúde incluíram a PrEP como eixo central nas suas novas recomendações: não deve mais ser reservada exclusivamente a homens que têm relações homossexuais.
Para as pessoas já infetadas, os tratamentos são cada vez mais eficazes e convenientes, especialmente porque têm uma frequência menor.
Obstáculos persistem
Apesar dos avanços, a implementação de tratamentos, quer preventivos, quer curativos, enfrenta inúmeros desafios. É o caso dos países pobres, como os do continente africano, onde o custo dos medicamentos continua a ser um problema.
Um caso polémico gerou debate nos últimos meses.
O laboratório Gilead desenvolveu um medicamento, o lenacapavir, que promete uma eficácia sem precedentes tanto na prevenção como no tratamento. Os especialistas acreditam que isso pode significar uma mudança revolucionária, mas o seu custo é astronômico: cerca de 38 mil euros por pessoa ao ano.
Sob pressão das associações que lideram a luta contra a SIDA, a Gilead anunciou no início de outubro que permitiria a produção de versões genéricas de baixo custo deste tratamento nos países mais pobres.
No entanto, as barreiras não são apenas financeiras, principalmente no caso de tratamentos preventivos. É também crucial combater o estigma associado ao seu uso, em países onde, por exemplo, a homossexualidade ainda não é aceite.
“A implementação da PrEP em África enfrenta um desafio maior: fazer com que as pessoas de alto risco reconheçam que estão em risco”, resumiu um artigo na The Lancet Global Health em 2021.
O mesmo problema aplica-se ao diagnóstico, que é especialmente importante, uma vez que muitas infeções são detetadas em estágio avançado, o que dificulta o seu tratamento.
E as vacinas?
Alguns aspetos recebem uma atenção mediática que pode ser desproporcional. É o caso da investigação de vacinas, que até agora não produziu resultados conclusivos.
Com a eficácia dos tratamentos preventivos, “já não temos, no fundo, uma vacina?”, perguntou em outubro, durante conferência de imprensa, Yazdan Yazdanpanah, especialista em doenças infecciosas e diretor da ANRS, instituto francês pioneiro na luta à SIDA.