A saúde mental dos colaboradores tornou-se um dos tópicos mais debatidos nos últimos anos. Hoje, é uma das grandes prioridades para as empresas, que procuram formas de promover ambientes de trabalho mais saudáveis e apoiar o equilíbrio emocional das suas equipas.
Durante a pandemia de COVID-19, para além dos desafios de atrair e reter talento, os profissionais de recursos humanos tiveram de gerir o impacto emocional causado pela transição para o teletrabalho e pelas difíceis decisões de despedimento. A responsabilidade de enfrentar muitas das dificuldades que se seguiram recaiu sobre estes líderes, que tiveram de encontrar formas de combater o cansaço e o burnout nas suas equipas, mantendo a moral e a cultura da empresa vivas em condições adversas.
As mudanças trazidas pela pandemia e as adaptações ao novo modelo de trabalho tiveram um forte impacto no bem-estar emocional de todos. No entanto, para estes especialistas, gerir as emoções e o bem-estar dos outros — muitas vezes sem o apoio adequado para cuidarem de si próprios —, resultou em níveis elevados de stress e, em muitos casos, no seu próprio burnout. Surge, por isso, a pergunta: quem cuida da saúde mental dos diretores de recursos humanos? Afinal, são os primeiros a lidar com as crises dentro das empresas.
A verdade é que raramente questionamos o peso emocional que recai sobre estes profissionais. Quer estejam a implementar novas políticas, a gerir conflitos ou a tomar decisões difíceis, cabe-lhes garantir que todos se sintam apoiados, ouvidos e valorizados. É, por isso, comum que se sintam sobrecarregados e sem uma rede de apoio, acabando por experimentar uma espécie de “síndrome do cuidador”.
Obtive respostas à minha questão no último mês, quando tive a oportunidade de reunir com mais de 100 líderes de recursos humanos em Portugal, durante uma série de eventos que organizei em Lisboa, Porto e Braga. Pude ter conversas extremamente valiosas, que me permitiram ouvir em primeira mão quais são os maiores desafios enfrentados por estes profissionais. Revelaram-me, por exemplo, que não querem perder tempo com relatórios complexos ou folhas de cálculo extensas, mas sim, acesso a dados claros e métricas relevantes que os ajudem a tomar decisões informadas, avaliar o desempenho e o clima organizacional.
Estes profissionais estão na linha da frente do bem-estar de toda a organização, mas, frequentemente, descuram a própria saúde mental. Esta lacuna exige atenção urgente. Em momentos críticos para as empresas, enfrentam exigências acrescidas, tentam equilibrar a vida pessoal e profissional e lidam com as mesmas incertezas que qualquer outro colaborador. Considero absolutamente essencial que as ferramentas de apoio psicológico e emocional oferecidas pela organização também estejam ao alcance destes líderes, para que possam continuar a desempenhar o seu papel de forma saudável, equilibrada e sustentável.
Programas internos de bem-estar, que incluam aconselhamento psicológico e oportunidades de partilha de experiências são fundamentais. Além disso, já existem hoje ferramentas como People Analytics e Inteligência Artificial que monitorizam os níveis de stress e detetam sinais precoces de burnout entre estes profissionais, ajudando a tornar o seu dia a dia menos complexo, ao reduzir a carga administrativa associada à gestão de pessoas, tarefas repetitivas e intensas, permitindo-lhes focarem-se no essencial: as pessoas.
Acredito que a saúde mental de todos deve estar no topo das prioridades de qualquer organização. Proteger o bem-estar daqueles que cuidam dos outros não é só uma questão de justiça, mas também uma estratégia inteligente para garantir a sustentabilidade e o sucesso a longo prazo. Afinal, quem cuida também precisa de cuidado.
Por: A opinião de Tiago Santos