O bruxismo do sono é um distúrbio que afeta entre 8 e 12% da população geral. Trata-se de um comportamento involuntário que consiste no apertar da mandíbula e/ou no ranger dos dentes.
O desconforto da mandíbula e a dor de cabeça são sintomas frequentes, mas é muitas vezes outra pessoa quem deteta o problema devido ao ruído do ranger de dentes durante o sono. Noutros casos, é na consulta com o médico dentista que o problema se torna suspeito, através dos sinais de desgaste dentário.
Contudo, um dos maiores problemas associados ao bruxismo – e que mais impacta o dia-a-dia das pessoas – é a fragmentação do sono. O bruxismo gera múltiplos despertares durante a noite que contribuem para um sono superficial e não reparador, mas também para o cansaço e fadiga ao longo do dia.
Parece haver vários fatores que contribuem para o desenvolvimento do bruxismo, como alterações anatómicas craniofaciais e dentárias, mas também alterações do sistema nervoso autónomo e fatores psicológicos, como o stress e ansiedade.
O bruxismo pode ser uma manifestação de outras doenças, particularmente pela sua associação frequente à apneia do sono e à roncopatia, mas também à doença do refluxo gastroesofágico, algumas doenças neurológicas ou à utilização de determinados medicamentos.
Quer para o diagnóstico e tratamento, quer para a prevenção de complicações, torna-se fundamental a avaliação do bruxismo por uma equipa médica especializada. Os tratamentos mais frequentes consistem na utilização de dispositivos orais, como goteiras para proteção do desgaste, ou dispositivos de avanço mandibular, que alteram a posição da mandíbula reduzindo o bruxismo, o ressonar e as apneias associadas.
Além disto, a implementação de uma boa higiene do sono é essencial: assegurar horários regulares e que permitam cumprir as necessidades individuais de sono, jantar de forma ligeira e sem consumo de bebidas alcoólicas, café ou tabaco, evitar exposição à luz e aos dispositivos eletrónicos ao final do dia e preparar o sono após o jantar com um relaxamento progressivo e um ambiente tranquilo que termine num quarto sem televisão, sem luz, sem ruído e com uma temperatura confortável. Em alguns casos de bruxismo pode ser benéfica a realização de fisioterapia, terapia cognitivo-comportamental (psicoterapia do sono), terapia farmacológica ou mesmo a administração de toxina botulínica.
O bruxismo é uma doença prevalente, que se pode associar a comorbilidades graves e que pode ter consequências importantes para a qualidade do sono e para a saúde física, oral e mental. Procurar ajuda médica com uma equipa multidisciplinar, como médico de sono e médico dentista, é essencial.
Um texto de Vânia Caldeira, médica especialista em Medicina do Sono na Clínica Hugo Madeira.