A 30 de setembro, assinala-se o Dia Nacional do Cancro Digestivo. Estes tumores ainda são a maioria dos cancros em Portugal, mas, hoje, métodos de diagnóstico melhorados e novos tratamentos estão a conseguir resultados que, há apenas 10 anos, não eram possíveis.
O cancro digestivo, na verdade, corresponde a vários tipos de cancro: os do tubo digestivo – esófago, estômago, intestino delgado, intestino grosso (cólon e reto) e ânus – e os das chamadas glândulas anexas – fígado, vias biliares e pâncreas. No seu conjunto, constituem a maioria dos tumores no mundo ocidental, e em Portugal, em particular. Em termos de incidência, destacam-se o cancro do estômago, o do pâncreas e, principalmente, o do cólon e reto, que é a neoplasia com maior incidência e mortalidade no nosso país.
Apesar de englobados num grupo, estes cancros têm comportamentos diferentes e, muitas vezes, formas de tratamento diferentes. Em geral, o tratamento passa pela utilização (isolada ou em combinação) de cirurgia, radioterapia ou tratamentos medicamentosos.
Mas, antes de falar em tratamentos, importa lembrar dois passos fundamentais em Oncologia: o primeiro é ter um diagnóstico preciso – isto é, por via de uma biópsia ou de material obtido por cirurgia, ter uma avaliação microscópica, complementada muitas vezes por outras análises aos tecidos tumorais. É isto que, verdadeiramente, confirma, por um lado, que de facto é cancro e, por outro lado, de que tipo de cancro se trata.
Para exemplificar, um tumor do esófago pode ser um carcinoma pavimento-celular ou um adenocarcinoma. E, por exemplo, os adenocarcinomas podem ter diferentes características biológicas, que conferem à doença prognósticos e estratégias de tratamento diferentes, com potencial utilização de medicamentos especialmente dirigidos a essa(s) característica(s).
O segundo passo é fazer o estadiamento da doença oncológica, isto é, fazer uma “fotografia” do tumor: saber onde é que está e se está localizado no orgão original ou se já passou para outro(s) orgão(s), ou seja, se metastizou. Este aspecto é muito importante, na medida em que uma doença metastizada tem um prognóstico mais desfavorável e porque a forma de tratamento pode ser diferente.
As neoplasias digestivas mais localizadas, não metastizadas, são, normalmente, tratadas com cirurgia e/ou radioterapia, por vezes, complementada com tratamentos medicamentosos (como a quimioterapia), de forma a reduzir a possibilidade de a doença voltar a aparecer. Já o tratamento da doença metastizada é, normalmente, medicamentoso.
A evolução da Medicina é, na grande maioria das vezes, um processo progressivo, feito de pequenos (e, às vezes, de grandes) passos. E assim tem sido em Oncologia. Mas, nos últimos 10 a 15 anos, a grande e acelerada disponibilidade de informação tem vindo a traduzir-se em sucessivos aperfeiçoamentos e melhoria de resultados.
Por um lado, houve melhorias nos métodos de diagnóstico, tanto nos de imagem – TAC, ressonância magnética, PET – como nos laboratoriais – por exemplo, com possibilidade de, em análises de sangue ou dos próprios tecidos tumorais, se identificarem, cada vez mais, alterações biológicas individuais do tumor que, como já referido, nalguns casos, podem melhor definir o prognóstico ou justificar o uso de determinados medicamentos.
Por outro lado, houve também melhorias ao nível do tratamento cirúrgico e da radioterapia, com o desenvolvimento de técnicas progressivamente mais eficazes, com melhores resultados e com menos complicações.
Houve, por fim, melhorias em termos dos tratamentos medicamentosos, que hoje já não são sinónimo de apenas quimioterapia. Embora a quimioterapia continue a ser uma solução muito importante no tratamento do cancro digestivo, a esta juntaram-se outras opções de tratamento: agora, dispomos também da imunoterapia e das chamadas terapêuticas-alvo, utilizadas em casos em que se identificam alterações muito específicas no tumor, contra as quais o medicamento consegue atuar. Quer isto dizer, portanto, que, quer a imunoterapia, quer as terapêuticas-alvo, são apenas usadas nas situações em que se verificam as correspondentes alterações biológicas.
O que hoje estamos já a testemunhar é que, em alguns casos, estas terapêuticas conseguem resultados que, há apenas 10 anos, não eram possíveis, como o desaparecimento do cancro, mesmo quando este já se encontrava numa fase muito avançada.
Uma palavra ainda sobre a importância de não desvalorizar queixas: no caso do cancro digestivo, salientam-se emagrecimento ou cansaço progressivo, dificuldade em engolir, dores na região do estômago ou do abdómen em geral, enfartamento, alteração do funcionamento do intestino (no sentido de prisão de ventre ou de diarreia) e aparecimento de sangue nas fezes. Estes sintomas deverão justificar procurar o seu médico assistente e, consoante a avaliação das queixas, proceder aos exames de diagnóstico adequados.
Finalmente, dada a frequência com que surgem novos casos de cancro colorretal, em Portugal, não é demais lembrar a importância de, a partir dos 50 anos, caso não surjam sintomas antes, fazer os exames de deteção precoce desta doença regularmente.