Os sintomas iniciais são facilmente confundidos com condições benignas, atrasando o diagnóstico, alertam especialistas.
O cancro da cabeça e pescoço, cujos sintomas iniciais são frequentemente confundidos com condições benignas, é diagnosticado tardiamente na maioria dos casos. Em Portugal, entre 2.500 a 3.000 pessoas são diagnosticadas anualmente com esta doença, e mais de metade dos casos são detetados em fase avançada, comprometendo significativamente as hipóteses de cura e a qualidade de vida dos doentes. Os principais sintomas, que podem ser confundidos com condições menos graves, incluem: aftas, feridas na boca, dor de garganta, rouquidão, sangramento nasal e inchaços no pescoço. A grande diferença é a sua duração – quando são sintomas de cancro, não desaparecem ao fim de 3 semanas.
A Campanha Make Sense, uma iniciativa internacional dedicada a aumentar a consciencialização sobre o cancro da cabeça e pescoço, inicia a sua 12ª edição este ano, focada em destacar a necessidade de progresso e equidade em todos os aspetos da prevenção, diagnóstico e tratamento desta doença. Liderada em Portugal pelo Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço (GECCP), esta campanha tem como objetivo aumentar a consciencialização sobre os sinais e sintomas do cancro da cabeça e pescoço, incentivando o diagnóstico precoce, mas também garantir que todos os doentes tenham acesso ao tratamento adequado e atempado, independentemente da sua localização ou condição socioeconómica.
Altamente curável
Quando diagnosticado precocemente, o cancro da cabeça e pescoço é altamente curável, com taxas de cura entre 80% e 90%. Em contraste, a taxa de cura desce para 40% a 50% em estádios avançados. Por este motivo, a campanha procura divulgar amplamente os sinais e sintomas do cancro da cabeça e pescoço, incentivando a população a procurar assistência médica atempadamente.
Este ano, a campanha Make Sense visa também aumentar a consciencialização sobre as estratégias de prevenção, incluindo a importância da vacinação contra o HPV para todos os géneros e procura divulgar amplamente os sinais e sintomas do cancro da cabeça e pescoço, incentivando a população a procurar assistência médica atempadamente. Isto porque os fatores de risco são conhecidos e podem ser evitados ou combatidos. São eles o tabagismo, o consumo regular de bebidas alcoólicas e a infeção sexualmente transmissível a HPV. Assim, evitar ou deixar de fumar, moderar o consumo de bebidas alcoólicas e a vacinação contra o HPV, para todos os géneros, são as melhores formas de prevenção.
Ana Joaquim, presidente do GECCP defende que “devemos trabalhar para eliminar as disparidades no acesso ao tratamento e garantir que todos os doentes recebam o apoio necessário durante todo o processo, desde a prevenção até à recuperação. Isso inclui a formação contínua dos profissionais de saúde e a melhoria das infraestruturas de atendimento.”
O acesso ao tratamento contra o cancro da cabeça e pescoço, que inclui cirurgia, radioterapia e tratamentos sistémicos, está assegurado nas várias unidades hospitalares; contudo, o tratamento eficaz vai muito além da eliminação do cancro. É essencial garantir que os tempos entre o diagnóstico, estadiamento e início do tratamento sejam cumpridos, para evitar que a doença progrida enquanto os doentes aguardam o início do tratamento. Além disso, o acesso aos melhores cuidados de suporte é crucial para otimizar os resultados dos tratamentos, na medida em que a falta de acesso aos mesmos pode reduzir significativamente a tolerância aos tratamentos e a qualidade da recuperação.
Disparidades no acesso aos cuidados
As disparidades no acesso aos cuidados de saúde oral e ao diagnóstico precoce continuam a ser notórias entre as regiões do norte e do sul da Europa, estando diretamente relacionadas com o contexto socioeconómico e para a Prof. Cláudia Vieira, médica oncologista e membro da direção do GECCP “a educação da população, especialmente dos jovens e grupos de risco, assim como a capacitação de profissionais de saúde de primeira linha e a intensificação das políticas de cuidados de saúde oral, são fundamentais para garantir que os sintomas sejam reconhecidos e referenciados atempadamente”.
Para que esta temática também impacte a geração mais jovem, a campanha incluirá ações de sensibilização em escolas com sessões informativas, assim como rastreios de norte a sul do país.
Mais de 10% dos municípios do país mostraram interesse em aderir às atividades de rastreio junto da população, sendo que já estão agendados rastreios no Hospital de Braga, Municípios do Cadaval, Celorico da Beira, Freixo de Espada à Cinta, Marco de Canaveses, Mogadouro, Monchique, entre outros.
Estão também programadas sessões informativas para profissionais de saúde de modo a aprofundar o conhecimento e as competências dos médicos e enfermeiros no tratamento e acompanhamento de doentes com esta patologia. Para encerrar a semana, haverá também uma caminhada de sensibilização em Leiria, no dia 21 de setembro.