Com o Verão, vem o sol, o bom tempo e as temperaturas elevadas. Ótimo para se divertir e praticar exercício ao ar livre!
Contudo, existem grupos vulneráveis ao calor, com ênfase para as crianças, idosos e doentes com patologia crónica, como a diabetes. Se é doente diabético, deve ficar especialmente atento aos efeitos que as altas temperaturas podem causar no seu organismo.
Alterações da glicemia
No verão, as altas temperaturas podem levar à desidratação, aumentando o risco de hiperglicemia. Nos dias quentes, o organismo tenta manter a temperatura interna estável, elevando a transpiração. Se a água corporal não for reposta, ocorre a desidratação e o açúcar acumula-se na corrente sanguínea.
Por outro lado, também há um risco acrescido de hipoglicemia, já que a ação da insulina pode ser alterada em dias mais quentes. Como o fluxo sanguíneo aumenta naturalmente com calor, é comum a insulina ser absorvida mais depressa e, consequentemente, o seu mecanismo de ação ser mais rápido.
Para evitar estas alterações, e consoante a recomendação do seu médico, pode ser necessário ajustar a medicação e aumentar a frequência da pesquisa da glicemia.
Alimentação
Ingira diariamente 1,5 a 2 litros de líquidos, preferencialmente, água. Reforce a sua ingestão se a temperatura for muito elevada, ou durante a atividade física. Evite as bebidas alcóolicas e com elevado teor de açúcar.
Para manter os valores de glicemia equilibrados, é benéfico fazer refeições leves, ricas em fibras, proteínas magras, vitaminas e minerais, e pobres em hidratos de carbono simples.
Atividade física
O exercício físico reduz os níveis de glicose no sangue e ajuda a regular a pressão arterial e o colesterol, mas a atividade física em excesso, ou esforços contínuos de qualquer natureza, devem ser evitados, especialmente em dias quentes. Opte por ambientes frescos, ao amanhecer ou ao anoitecer, para exercitar.
É importante que faça sempre a pesquisa da glicemia antes e no fim da atividade física. Em caso de hipoglicemia (valor inferior a 70mg/dl), ou de valores superiores a 200mg/dl, evite a prática de exercício físico.
Se fizer atividades físicas mais prolongadas, é recomendável consultar previamente o seu médico, porque pode ser necessário fazer ajustes na medicação e na alimentação.
Exposição solar
Evite a exposição direta ao sol, em especial entre as 11 e as 17 horas. Sempre que se expuser ao sol, ou ao ar livre, use um protector solar com um índice de protecção elevado (igual ou superior a 30) e renove a sua aplicação de 2 em 2 horas, ou sempre que se molhar ou transpirar bastante.
No doente diabético, o corpo nem sempre produz mais transpiração, quando há uma subida da temperatura ambiental, o que pode conduzir a quadros de hipertermia (temperatura corporal acima do normal), com risco de vida. Isto ocorre por um distúrbio do sistema nervoso autónomo, que é responsável pelas funções involuntárias do organismo, entre as quais a produção de suor.
Cuidados com os pés
O risco de uma lesão no pé, incluindo uma úlcera ou gangrena, em pessoas com Diabetes, é de 15 a 25%. Por isso, deve dar uma atenção especial aos seus pés, utilizando calçado confortável e bem adaptado. Não deixe os pés molhados muito tempo e prefira meias de fibra natural, como o algodão. Na praia, proteja os pés de forma a não se magoar. Se a sensibilidade nos pés estiver diminuída, é desaconselhado a andar descalço.
Medicação e dispositivos
Tanto os antidiabéticos orais, como a insulina e as tiras e medidores de glicose devem ser armazenados em condições adequadas, longe da exposição solar direta ou em locais demasiado quentes.
A insulina, quando está a ser utilizada, deve ser conservada a temperaturas inferiores a 25-30ºC, podendo ser necessário colocá-la numa bolsa térmica refrigerada.
Evite a administração da insulina nas zonas do corpo mais frequentemente expostas ao sol, pois aumenta a sua velocidade de absorção.
Sinais de alarme
Fique atento aos sinais de alarme provocados pelo stress do calor: dor de cabeça, tonturas e confusão, perda de apetite, fraqueza, transpiração excessiva, sede intensa, pele pálida e pegajosa, cãibras contínuas, pressão arterial baixa, aumento da frequência respiratória ou cardíaca e temperatura corporal elevada (38°C ou acima).
Perante estes sinais, ou sempre que tenha dúvidas relativamente à medicação ou às medidas a adotar durante o verão, não hesite em consultar o seu médico.
Bons banhos e boas férias!
Um artigo da médica Vanda Jorge, especialista de Medicina Interna no Hospital CUF Torres Vedras.