É importante que os sintomas sejam reconhecidos rapidamente, para garantir um diagnóstico precoce e um tratamento adequado dos sarcomas. Conheça os casos de dois doentes, que o demonstram.
Os sarcomas são um grupo de neoplasias raras com origem no tecido conjuntivo, incluindo ossos, músculos, gordura, vasos sanguíneos, nervos e os tecidos peri articulares (ao redor das articulações). Representam cerca de 1% dos cancros em adultos e 15% dos cancros em crianças.
Existem dois grandes grupos de sarcomas: ósseos e de partes moles. A classificação destes tumores é efetuada de acordo com o seu local de origem – por exemplo, os que se originam em células adiposas são os lipossarcomas; os dos músculos, leiomiossarcomas; os dos vasos, angiossarcomas; entre outros. Os sarcomas podem aparecer em qualquer localização do corpo humano, ter múltiplas histologias e nem todos têm a mesma agressividade.
Os sintomas dependem da localização e do tamanho do sarcoma, podendo incluir nódulos, dor, desconforto, alterações no movimento ou função (principalmente se atingir uma articulação), perda de peso e cansaço. É importante que os sintomas sejam reconhecidos rapidamente pelos doentes, para garantir um diagnóstico precoce e um tratamento adequado.
Sempre que temos um nódulo com mais de 3 cm, é fundamental consultar um médico. Como exemplo, recordo-me de um caso de uma doente com cerca de 33 anos, cabeleireira, com um nódulo de 3 cm no braço, que foi observada na urgência e consideraram ser um lipoma. A doente foi operada sem biópsia e, quando chegou o diagnóstico, era um lipossarcoma de alto grau com margens positivas (isto é, com células malignas). Rapidamente, o tumor voltou e a doente teve que fazer uma segunda cirurgia, a qual implicou enxerto cutâneo e diminuição da força no membro, com implicações na sua atividade profissional. Esta situação talvez pudesse ser evitada, se tivesse sido feita uma biópsia e a cirurgia tivesse sido programada em reunião multidisciplinar.
Importância da multidisciplinaridade
É fundamental que exista multidisciplinaridade no tratamento destas doenças, para melhorar a qualidade de vida e a sobrevivência dos doentes. De facto, o diagnóstico dos sarcomas implica exame físico, exames de imagem e biópsia, que devem ser efetuados por equipas especializadas. Depois, o tratamento depende do tipo, localização e estadio do sarcoma e pode consistir em cirurgia, radioterapia e/ou terapêuticas sistémicas. Todos os casos devem ser discutidos em reunião multidisciplinar, para melhor tratar o doente.
O prognóstico dos doentes com sarcomas varia amplamente e devem ser considerados diversos fatores, como o tipo e grau do sarcoma, a sua localização e a rapidez com que é diagnosticado. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado melhoram significativamente as possibilidades de um resultado favorável. Prova disso é o caso de um jovem de 18 anos, com queixas de dor no membro inferior esquerdo, local onde um raio-X permitiu detetar uma lesão suspeita. Foi rapidamente encaminhado para uma equipa especializada e, após o diagnóstico de um osteossarcoma sem metástases, conseguiu fazer a quimioterapia perioperatória e a cirurgia conservadora do membro dentro dos tempos considerados adequados. Quatro anos depois do diagnóstico, com a devida orientação e tratamento, este doente está sem evidência de doença e a acabar o curso superior no qual entrou durante o período de tratamento oncológico.
A investigação sobre sarcomas continua a crescer, com avanços em Genética, Biologia Molecular e novas terapêuticas. Os ensaios clínicos são fundamentais para desenvolver tratamentos mais eficazes e menos invasivos. Devido à raridade deste grupo de patologias, a investigação é menos apoiada, em comparação com outros tipos de cancro mais comuns. É necessário mais investigação e financiamento para desenvolver novos tratamentos e melhorar os resultados dos doentes.
Os doentes com sarcoma e as suas famílias enfrentam desafios únicos, devido à raridade e agressividade da doença, pelo que se devem promover medidas que permitam criar redes de suporte, grupos de apoio e recursos médicos especializados.
Aumentar a visibilidade dos sarcomas pode facilitar o acesso a tratamentos especializados e um maior interesse em iniciativas de investigação, contribuindo para melhorar significativamente a vida dos doentes.
Um artigo da médica Isabel Fernandes, coordenadora de Oncologia no Hospital CUF Descobertas.