Jejuar intermitentemente como estratégia para a perda de peso tornou-se palavra de ordem. Mas, que evidências há sobre os resultados positivos desta dieta restritiva? E que perigos oculta? A nutricionista Cláudia Viegas expõe-nos o seu ponto de vista.

Jejuar como estratégia para a perda de peso não é novidade. Contudo, atualmente, o tema assumiu contornos de programa de emagrecimento, sem que lhe falte uma etiqueta: Jejum Intermitente. Simplificando, passar longas horas (com períodos variáveis que poderão superar as 24 horas) sem ingerir qualquer alimento. Diríamos que se tornou uma moda, defendida por diversos autores, profissionais de saúde e leigos em matéria alimentar.

Uma moda similar a tantas outras, quando o tema toca na questão das dietas restritivas. Na ânsia de perderem peso, ou por uma questão de imagem corporal, as pessoas procuram a fórmula mágica e definitiva para o seu problema, objetivo ou não. Um campo onde não falta quem se apresente disponível para devolver a solução milagrosa. Porém, esta não existe.

Como ponto de partida, uma certeza: a maioria dos estudos sobre o jejum intermitente são elaborados com recurso a animais de laboratório, com um metabolismo muito diferente do dos humanos.

Estes estudos podem ser considerados como evidência científica preliminar, mas devem ser avaliados com muito cuidado, não devendo ser retiradas conclusões diretas.

A experiência e evidência científicas revelam-nos que muitos estudos em diversas áreas reportam resultados excelentes em animais, face ao objetivo proposto. Numa fase posterior, quando se transportam os ensaios clínicos para seres humanos, os resultados não são os mesmos.

Especificando em relação ao jejum intermitente, há poucos estudos sobre o mesmo em humanos e os que existem são de curta duração e com amostra reduzida no número de indivíduos.

Acresce que o facto de os estudos efetuados em humanos sobre jejum os compararem com a manutenção da alimentação habitual, não nos permite saber se a perda de peso ou os resultados obtidos, advém daquele jejum específico ou se teriam sido alcançados com qualquer outra alteração no comportamento.

Estudos que comparam o jejum com outro tipo de restrição energética, obtém os mesmo resultados, o que permite concluir que, independentemente de ser numa única refeição ou em várias, o que interessa mesmo é a restrição energética e a adesão à dieta restritiva.

E este é o princípio do emagrecimento: ingerir menos energia do que aquela que gastamos. Para conseguir este balanço negativo há diversas abordagens, o jejum é uma delas, mas não quer dizer que seja adequada ou melhor.

O que temos por certo é que as dietas demasiado restritivas são difíceis de manter no longo prazo e a maioria dos estudos sobre perda de peso conclui que independentemente da dieta (mais ou menos “louca”) que se segue para perder peso, a longo prazo, as estratégias que funcionam implicam modificações comportamentais, atividade física, dieta equilibrada, com todos os grupos alimentares e a gestão do stress.

Constatações que não invalidam que alguns indivíduos respondam positivamente ao jejum intermitente e prefiram comer menos vezes. Contudo, estudos apontam como óbice a este regime o facto de os indivíduos referirem ter muitas vezes fome ao longo do dia.

Quando falamos de alimentação há que entender que as pessoas são diferentes, têm hábitos, gostos, estilos de vida e variáveis individuais próprias, e um plano alimentar deve ser sempre adaptado e individualizado.

De: https://lifestyle.sapo.pt