Os benefícios da exposição solar são conhecidos. Contudo, a exposição solar excessiva e não protegida tem consequências negativas a curto e longo prazo para a nossa pele.
A curto prazo apresentam-se as queimaduras solares e as fotodermatoses (algumas delas vulgarmente conhecidas como alergia ao sol). As consequências negativas a longo prazo dizem respeito ao fotoenvelhecimento e ao desenvolvimento de cancro de pele.
O tema fototoproteção é fundamental em todas as idades, mas assume especial relevância em idades pediátricas. Nesta faixa etária, a pele ainda é imatura e mais suscetível aos efeitos negativos do sol. Aliás, a exposição solar em idade pediátrica é um dos principais fatores de risco de desenvolvimento de cancro de pele, como por exemplo o melanoma.
Atualmente sabe-se que uma queimadura solar na infância duplica o risco de desenvolvimento de cancro de pele. Por este motivo, as crianças não devem, de forma alguma, ser expostas diretamente ao sol durante os primeiros 12 meses de vida.
O uso de protetor solar não está recomendado em idades inferiores a 6 meses. Entre os 6 e os 24 meses apenas devem ser usados protetores solares minerais (também conhecidos como físicos) uma vez que estes formam uma camada protetora que reflete a radiação ultravioleta, não sendo absorvidos pela pele e, portanto, apresentam um menor risco de sensibilização e irritação. Os protetores minerais são, nestas idades, mais seguros. O óxido de zinco e o dióxido de titânio são exemplos destes filtros minerais.
De recordar que o uso de protetor não se limita à praia, mas também a qualquer atividade no exterior, como passeios, desporto e brincadeiras ao ar livre. No caso de crianças, além do uso do protetor solar, o uso de fotoproteção têxtil (chapéu e roupa com proteção ultravioleta) e óculos de sol são extremamente importantes.
Convém também lembrar que o uso de chapéu de sol na praia não oferece proteção absoluta. Tanto a água como a areia são superfícies refletoras dos raios ultravioleta e, por este motivo, mesmo à sombra deve ser usada fotoproteção. Outro aspeto importante a ter em conta é que a radiação ultravioleta é especialmente intensa entre as 10h e as 16h.
Em crianças com idades superiores a 2 anos podem já ser usados filtros solares físicos e químicos, presentes em muitos protetores solares comuns. Contudo, deve ser dada preferência a fotoprotetores pediátricos. Na impossibilidade do uso de um fotoprotetor pediátrico, pode ser usado um protetor solar considerado para ‘adulto’, uma vez que o mais importante é que se assegure a fotoproteção.
Quanto aos adultos, não há qualquer contraindicação do uso de protetores solares pediátricos. Porém, durante a gravidez devem ser usados fotoprotetores minerais.
Os protetores solares infantis, além de minerais, devem ser hipoalergénicos, adequados a peles sensíveis (como são as pediátricas), sem fragrâncias, parabenos ou corantes, que podem causar irritação ou sensibilização da pele. Devem ser resistentes à água e com fator de proteção elevado (FPS/SPF 50+).
Outra questão de extrema importância é que o protetor solar deve oferecer proteção contra UVB e UVA. Deve ser dada preferência a texturas leves e de fácil aplicação, uma vez que este fator permite uma aplicação mais uniforme e uma maior aceitação do protetor por parte da criança. A partir dos 6 meses de idade deve ser aplicado protetor solar diariamente nas áreas de pele expostas ao sol. De recordar que, nesta idade, a exposição direta ao sol não é recomendada e deve ser evitada.
De uma forma geral, se quisermos ser exigentes na escolha do protetor solar, os critérios anteriormente referidos na escolha do protetor pediátrico devem ser tidos em conta. De salvaguardar que em adultos não há, contudo, essa preferência de filtros solares exclusivamente minerais como nas idades pediátricas. Aliás, protetores que combinem filtros solares minerais e químicos, são naturalmente mais eficazes.
Uma questão que cada vez mais tem vindo a ser discutida é o uso de fotoprotetores de largo espetro, que oferecem cobertura, não só de UVB e de UVA, mas também de raios de UVA longos. A importância desta cobertura mais ampla prende-se com o facto de a radiação UVA ser responsável pelo envelhecimento precoce da pele, pelo desenvolvimento de manchas na pele e melasma, assim como reações alérgicas e de intolerância ao sol.
Outro hot topic na escolha do fotoprotetor, sobretudo de rosto, é a cobertura da luz azul. Este tema tem vindo a ganhar relevância com o aumento da exposição da nossa pele a ecrãs, sejam do telemóvel ou do computador. Apesar de os efeitos da luz azul provenientes dos ecrãs na nossa pele ainda não estarem completamente estudados e esclarecidos, alguns estudos têm sugerido que a exposição a este tipo de luz pode acelerar o processo de envelhecimento da pele e levar a problemas de hiperpigmentação, tais como o melasma.
Além das características anteriormente referidas, deve ser dada preferência a protetores solares que contenham na sua composição ingredientes ativos, nomeadamente antioxidantes que ajudam a nossa pele a defender-se contra os efeitos nocivos do stresse oxidativo e dano no DNA, causados pela exposição da pele à radiação ultravioleta.
Em pacientes com patologias dermatológicas conhecidas, a escolha do fotoprotetor deve recair em produtos com substância ativas ou formulações ajustadas ao seu tipo de pele. Exemplos clássicos são protetores solares com ingredientes ativos que ajudam no tratamento de patologias como a hiperpigmentação (por exemplo, o melasma) ou rosácea. Além disso, peles oleosas ou com tendência acneica devem dar preferência a protetores solares não comedogénicos e oil-free. Estas características são facilmente identificáveis nos rótulos.
As recomendações consistem em aplicar a quantidade de dois miligramas por centímetro quadrado de superfície corporal (2mg/cm2). A aplicação de quantidades suficientes de protetor solar é fundamental para nos protegermos dos efeitos nocivos da radiação ultravioleta.
Para a face e pescoço usamos frequentemente a regra dos “dois dedos” ou a regra da “colher de chá” que nos ajuda de uma forma mais visual e simples a determinar a quantidade de protetor solar necessária. Isto é, se aplicarmos uma linha de protetor solar na face palmar dos dedos indicador e médio, essa é a quantidade de protetor que deve ser aplicada na face.
Quanto à quantidade suficiente para aplicar na face e pescoço, aqui falamos na “regra dos três dedos”. Esta é uma grande quantidade de protetor solar e, infelizmente, ninguém faz isto. Ao aplicarmos uma quantidade insuficiente de protetor solar não estamos a obter a proteção indicada nas embalagens, dando-nos uma falsa sensação de segurança. O protetor solar deve ser aplicado 30 minutos antes da exposição solar e reaplicado ao final de duas horas, assim como após o banho (em caso de praia ou piscina) e em caso de transpiração.
Artigo de Marta Ribeiro Teixeira, dermatologista da Clínica Espregueira, no Porto, sobre a importância da utilização de protetor solar em todas as faixas etárias.