“Se a ingestão global excessiva de sódio persistir, podem esperar-se várias consequências indesejáveis para a saúde cardiovascular”, refere o estudo.
Num editorial publicado na revista científica Nutrients, dois investigadores nacionais salientam a necessidade de mais estudos sobre a ingestão de sódio, apelando a um trabalho conjunto entre empresas alimentares, governos, consumidores e profissionais de saúde. O objetivo é simples: melhorar a saúde, sobretudo em Portugal, onde, segundo os dados do mais recente relatório da Organização Mundial de Saúde, a média da ingestão de sódio é de 3512 mg/dia, ou 8,9 gramas de sal, valor muito acima do máximo recomendado (2000 mg/dia, o equivalente a menos de cinco gramas de sal ou uma colher de chá). Uma tarefa que pode passar por alterações nos rótulos ou pela tributação dos alimentos mais salgados.
Apesar de o sódio ser, como referem Pedro Moreira, da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e Carla Gonçalves, da Unidade de Investigação em Epidemiologia e Laboratório de Investigação Integrativa e Translacional em Saúde da População, do Instituto de Saúde Pública, Universidade do Porto, “um nutriente essencial que desempenha um papel crucial em várias funções fisiológicas”, o seu consumo em excesso está associado a problemas graves de saúde.
“Se a ingestão global excessiva de sódio persistir, podem esperar-se várias consequências indesejáveis para a saúde cardiovascular, tendo em conta que quantidades mais elevadas de sódio têm sido consistentemente associadas a um maior risco de hipertensão e de doenças cardiovasculares”, lê-se no estudo. Um impacto que se faz sentir também ao nível dos rins, cérebro, ossos, trato gastrointestinal ou sistema imunitário.
Para fazer frente a este desafio da redução dos valores de sódio, todos concordam serem necessárias ações, mas de acordo com os investigadores nacionais, há falta de consenso em várias matérias e uma dificuldade associada à recolha de dados sobre o sódio, à avaliação das dietas e à determinação do impacto deste na saúde, por exemplo.
A estas juntam-se questões associadas aos métodos de confeção dos alimentos, preferências alimentares e até os contextos socioculturais, que têm impacto no consumo de sódio e cuja compreensão é considerada essencial para “conceber intervenções adaptadas a populações específicas (incluindo as menos frequentemente estudadas, como as mulheres grávidas, as crianças ou os idosos) e características demográficas”.
“É necessária mais investigação centrada nas várias estratégias utilizadas para abordar este problema de saúde pública, bem como a sua avaliação a nível regional e nacional, e é preciso colmatar várias lacunas de investigação”, referem os dois investigadores no artigo recentemente publicado.
É preciso, defendem ainda, aumentar os métodos de avaliação da ingestão de sódio, “desde novas ferramentas digitais de saúde (por exemplo, aplicações para smartphones) a dispositivos e tecnologias para controlar a adição de sal na preparação de refeições em casa ou na restauração”, sem esquecer “programas de mudança comportamental e técnicas de modelação para avaliar o potencial impacto das intervenções na ingestão de sal e nos resultados de saúde; e os impactos das abordagens políticas e legislativas para reduzir o consumo de sal (por exemplo, limites obrigatórios ou voluntários de sódio nos produtos alimentares, regulamentos de rotulagem e tributação)”.