Ministro da Saúde agradece à equipa do CHULC.
O Hospital D. Estefânia, em Lisboa, realizou em 28 de julho uma cirurgia de separação de gémeas siamesas. As duas irmãs, de quatro anos, estavam unidas pela zona do abdómen e região pélvica. “Agradeço a todos os envolvidos e desejo às meninas e à sua família as maiores felicidades”, afirmou o Ministro da Saúde, numa publicação nas redes sociais, considerando a intervenção um motivo de “orgulho e felicidade” para a família e para o Serviço Nacional de Saúde.
As gémeas, de nacionalidade angolana, estiveram 14 horas no bloco operatório, com uma equipa multidisciplinar. Durante a preparação da operação, que durou vários meses, o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC) contou com a colaboração de três médicos alemães.
Numa conferência de imprensa que teve lugar esta segunda-feira, 7 de agosto, o hospital considerou a intervenção, de elevada complexidade, um êxito.
Catarina Ladeira, chefe da cirurgia plástica pediátrica, responsável pelo procedimento de encerramento da parede abdominal, explicou que “o defeito da parede abdominal era muito grande” o que “impedia fechar com segurança o abdómen”, havendo risco de compressão dos órgãos.
Já Rui Alves, diretor do serviço de cirurgia pediátrica do hospital, e que liderou a equipa neste procedimento, destacou a raridade da cirurgia, que não era feita em Portugal há 24 anos, e o longo trabalho de preparação e pesquisa necessário, que envolveu diversas especialidades para o estudo anatómico das crianças, e muita pesquisa bibliográfica, tendo sido encontrado apenas um caso semelhante, nos EUA, referente a uma operação ocorrida em 1966.
O diretor do serviço de cirurgia pediátrica do Hospital D. Estefânia salientou ainda “o detalhe importante” da idade das crianças, uma vez que a recomendação para cirurgias de separação de siameses é que aconteçam entre os seis meses e o ano e meio de vida das crianças, tendo neste caso acontecido muito mais tarde.
Cirurgia complexa
No processo de separação foi necessário reconstruir parte do sistema urinário das gémeas, que tinham duas bexigas autónomas, mas ambas tinham os ureteres – canais que transportam a urina – ligados entre si, tendo sido necessário fazer a ligação correta, explicou Fátima Alves, especialista em urologia pediátrica, que realizou o procedimento. A médica referiu que as crianças têm agora um aparelho reprodutor “autónomo, completo e normal”, mas serão necessárias mais intervenções no futuro. “Esta fase apenas se destinou a separá-las, torná-las autónomas, mas a cirurgia não é de todo definitiva”, resumiu Rui Alves.
As meninas permanecem internadas em Portugal, ainda em cuidados intensivos. Segue-se, além das intervenções cirúrgicas ainda necessárias, uma longa recuperação, já que por estarem unidas desde o nascimento nunca puderam aprender a andar. Uma história rara de sobrevivência em que o SNS deu, uma vez mais, o seu melhor.
De: https://www.sns.gov.pt/noticias/2023/08/08/separacao-de-siamesas-no-sns/