A Parkinson é a segunda doença degenerativa do sistema nervoso central mais comum a nível mundial. Estima-se que 10 milhões de pessoas em todo o mundo e 20 mil pessoas em Portugal vivam com a doença. Embora seja uma condição conhecida pela população em geral, ainda existem dúvidas sobre a Parkinson. É apenas uma doença motora? Só afeta os idosos? Não tem cura?
No Dia Mundial da Doença de Parkinson, que se assinala todos os anos a 11 de abril, João Massano, neurologista da Unidade Local de Saúde (ULS) de São João, esclarece sete mitos e verdades sobre a doença.
A Parkinson é apenas uma doença motora?
Esta ideia é um mito. Tal como se explica num texto da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson (APDPk), “a doença surge quando os neurónios (células nervosas) de uma determinada região cerebral, denominada substância nigra, morrem, sendo que, quando surgem os primeiros sintomas, já há perda de 70 a 80% destas células”.
Em condições normais, “estas células produzem dopamina, um neurotransmissor que ajuda a transmitir mensagens entre as diversas áreas do cérebro que controlam o movimento corporal”, lê-se.
Assim, “quando as células da substância nigra morrem, os níveis de dopamina tornam-se anormalmente baixos, o que leva a dificuldades no controlo do tónus muscular e movimentos musculares”, afetando os músculos, durante o repouso e em atividade, acrescenta-se no mesmo texto.
De facto, “os sintomas mais conhecidos da doença de Parkinson são as alterações do movimento, nomeadamente um tremor muito típico, a lentidão dos movimentos e uma postura mais fletida, com uma marcha de passos mais pequenos”, adianta João Massano.
Contudo, há muitos sintomas associados à doença designados de “não motores”, tais como: “tensão arterial demasiado baixa”; “alterações urinárias” – como “dificuldade em urinar” ou “ter uma vontade frequente de urinar que não se explica por infeções, por exemplo”, refere.Além disso, “a certa altura, as pessoas podem ter alterações cognitivas”.
Outros sintomas frequentes não relacionados com o movimento são “depressão”, “ansiedade”, “fadiga”, “dor” e “alterações no padrão de sono”, salienta-se num texto da associação portuguesa Young Parkies.
Todas as pessoas com Parkinson têm tremores?
“Não, de todo”, informa João Massano. “Há vários tipos de tremores e a maior parte das pessoas que tremem não têm a doença de Parkinson”, explica o neurologista. Por vezes, esses tremores estão associados “a situações benignas que não requerem tratamento”.
Além disso, apesar de o tremor ser um sintoma comum de Parkinson, “muitas pessoas com a doença nem sequer têm tremores”, aponta.
Os sintomas da doença são variados. Por isso é que o tratamento também é muito individual. Segundo outro texto da APDPk, “quando o conjunto dos sintomas rigidez, tremor e bradicinesia [lentificação dos movimentos voluntários] está reunido” – “e ainda se junta uma alteração da postura com inclinação da cabeça e do tronco para a frente e um caminhar com passos pequenos e arrastados” – “o diagnóstico é fácil de fazer mesmo por alguém não médico”.
No entanto, sobretudo no início da doença, há casos em que a Parkinson “começa por rigidez e bradicinesia sem tremor” e, aí, “o diagnóstico é mais difícil de colocar”, acrescenta-se.
A Parkinson não tem cura?
Sim, a doença de Parkinson agrava-se com o tempo e não tem cura. No entanto, sublinha-se num texto da Organização Mundial de Saúde (OMS), existem “terapias” e “medicamentos” que “podem reduzir os sintomas”.
Além de não haver cura, também não se sabe, em concreto, o que causa a doença. Alguns casos “pouco frequentes são provocados por alterações genéticas específicas”, refere João Massano.
Por outro lado, também já se identificaram “alguns fatores de risco” – como “a exposição a determinados pesticidas” – que “aumentam o risco de desenvolver a doença”, prossegue.
Contudo, “na maioria dos doentes, não conseguimos identificar uma causa específica” para o surgimento de Parkinson.
É uma doença que só afeta os idosos?
A maioria dos doentes são mais velhos, ou seja, têm mais de 60 ou mais de 65 anos. Ainda assim, “estima-se que em 10% dos casos” a doença de Parkinson surge em pessoas “com menos de 50 anos”, informa João Massano.
Quando a Parkinson surge de forma precoce, “há um impacto particularmente grande na vida de uma pessoa” que pode estar “no auge profissional e que tem filhos em idade escolar”, por exemplo.
Quanto mais baixa for a idade, “maior é a probabilidade de a doença ser provocada por uma alteração genética”, apesar de nem sempre ser assim.
Existe medicação que atenua os sintomas?
Sim. Apesar de “nenhum medicamento ou intervenção” alterar “a progressão da doença”, existem fármacos “que melhoram os sintomas da doença de Parkinson durante vários anos”, o que também contribui para “uma qualidade de vida muito melhor”, explica João Massano.
Segundo um texto da organização norte-americana Parkinson’s Foundation, “é comum que as pessoas com Parkinson tomem uma variedade de medicamentos – muitos deles em doses diferentes e em alturas diferentes do dia – para controlar os sintomas”.
Os sintomas podem diferir de pessoa para pessoa e o impacto que têm na vida de cada um também pode ser diferente. Por esse motivo, refere-se num texto do Instituto Nacional de Doenças Neurológicas e AVC dos Estados Unidos (NINDS, na sigla inglesa), “o médico avalia em que medida os sintomas perturbam as atividades diárias da pessoa e, em seguida, adapta a terapia ao estado da pessoa”.
As pessoas com Parkinson não conseguem viver com autonomia?
“Durante os primeiros anos de doença as pessoas, geralmente, são autónomas”, adianta João Massano.
Aliás, os sintomas motores “só se tornam evidentes mais tarde no decurso da doença, depois de 60% a 80% dos neurónios da substância nigra já terem sido perdidos ou danificados”, refere-se noutro texto da Parkinson’s Foundation.
Com a progressão dos sintomas, explica João Massano, “as pessoas podem acabar por precisar de ajuda nas atividades diárias”, mas “isso tende a acontecer ao fim de uns anos da doença e numa fase em que já há alguma incapacidade instalada”.
O exercício físico ajuda a lidar com a doença?
“Sem dúvida”, responde João Massano. Segundo o médico, “o exercício físico em todas as fases da doença e a fisioterapia, sobretudo numa fase em que já há alguma incapacidade motora, são eficazes a melhorar os sintomas motores e não motores”.
Num texto da Parkinson’s Europe, enumeram-se vários benefícios proporcionados pela prática de exercício no contexto da doença de Parkinson, dos quais se destacam: “melhor equilíbrio e menos quedas”, “melhor postura e flexibilidade” e “maior energia e resistência”.
O exercício físico pode ainda ajudar na “melhoria do humor e redução do risco de depressão”, na “maior sensação de controlo” e no “melhor funcionamento e saúde do cérebro”.
Além disso, um doente com Parkinson que faça exercício corre menos risco de ter “lesões musculares e articulares”, previne e reduz a “perda de massa óssea” e “problemas de marcha, sono, fala e deglutição”, acrescenta-se no mesmo texto.
Por: Maria Malhado Lopes

