Lidar com a dor, sobretudo em contextos de dor crónica, pode ser difícil. Mesmo quando se seguem todas as medidas e recomendações para lidar com a dor, há fases da vida e até do dia em que a dor é mais intensa e desconfortável. Porque é que algumas pessoas sentem mais dor à noite? Como é que a ciência explica isto?

Porque é que a dor pode piorar à noite?

Sim, tanto a dor crónica como a dor aguda podem aumentar à noite. Quem o diz, em declarações ao Viral, é Armando Barbosa, anestesiologista especializado no tratamento da dor e diretor clínico da Paincare.

A dor, em si, é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável. Além disso, a dor é pessoal, ao ponto de não ser possível duas pessoas sentirem a dor da mesma forma, em situações semelhantes.

Há dois tipos principais de dor: a aguda e a crónica. “A dor aguda é uma dor que, até certo ponto, tem consequências benéficas para o organismo”, já que “é um sinal de alarme que avisa da ocorrência de um traumatismo, uma queimadura, um derrame articular ou uma úlcera gástrica, por exemplo”, explica-se num texto da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor.

A dor crónica “é geralmente definida como uma dor persistente ou recorrente durante pelo menos 3-6 meses, que muitas vezes persiste para além da cura da lesão que lhe deu origem, ou que existe sem lesão aparente”, acrescenta-se.

Tal como se sublinha no site do National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NINDS), é possível “sofrer de uma ou mais condições de dor crónica, ou dor crónica e aguda, ao mesmo tempo”.

Qualquer uma destas dores tende a ser mais intensa à noite, sobretudo de madrugada. Segundo Armando Barbosa, existem vários motivos que o justificam.

Por um lado, “como há menos distrações e mais ansiedade, focamo-nos mais na dor”, sublinha o médico.

Além disso, “a imobilidade e o frio provocam mais rigidez e desconforto”.

Também é possível que “o efeito dos fármacos comece a ‘cair’, na maior parte dos casos devido a horários desajustados”, prossegue.

Noutro plano, o sono também tem impacto na perceção de dor, ou seja, “dormir mal aumenta a dor” e “ter dor piora o sono”. Por isso é que “tratar o sono faz parte do tratamento da dor”, refere o especialista.

Esta questão também é assinalada no site da Sleep Foundation. Segundo a organização, “dor crónica e os problemas de sono têm uma relação bidirecional que pode levar a um ciclo frustrante de desconforto e insónia”.

Os estudos “mostram que a dor interfere no sono e, ao mesmo tempo, a falta de sono pode tornar a pessoa mais sensível à dor”, lê-se.

Quando se sente uma dor intensa e prolongada durante a noite, é importante procurar ajuda. Outro sinal de alerta que deve levar a uma avaliação médica urgente é, por exemplo, quando se sente uma “dor noturna persistente que não alivia com repouso”, associada a “febre, suores ou perda de peso”, refere Armando Barbosa.

Em caso de “dor óssea noturna contínua” e “dor torácica com falta de ar/sudorese ou cefaleia súbita e intensa com sinais neurológicos”, também se deve consultar um médico.

É ainda um sinal de alerta se a dor for associada a fraqueza ou alterações de sensibilidade e “perda de controlo urinário/fecal”, aponta.

Como lidar com a dor à noite?

Em primeiro lugar, sublinha Armando Barbosa, é importante “ajustar o horário dos medicamentos com o médico” para cobrir o horário mais crítico, entre as 22h e as 4h.

O especialista também recomenda a elaboração de “um diário de dor/sono/medicação”, durante uma a duas semanas, “para detetar padrões”.

Ter uma boa higiene do sono é fundamental na gestão da dor. Isto prende-se sobretudo com ter “horários regulares”, reduzir a exposição aos ecrãs, ter um “ritual de relaxamento”, “evitar treinos vigorosos nas 3 a 4 h antes de deitar” e dormir num “quarto escuro, silencioso e fresco”, explica. Em casos de insónia, deve-se tratar a condição.

Medidas simples, como aplicar “calor no local da dor durante 15 a 20 minutos”, fazer “alongamentos suaves” e “posicionar as almofadas” para uma maior confortabilidade, também ajudam a lidar melhor com a dor noturna.

Para mais, “além da fisioterapia e da educação em dor, podem ser ponderadas, consoante o diagnóstico, técnicas minimamente invasivas, como radiofrequência (indicada para a dor facetária), neurolaser/nucleoplastia percutânea (para algumas dores discogénicas), vertebroplastia (em fraturas por osteoporose), neuromodulação (em dor refratária) e ozonoterapia”, salienta Armando Barbosa.

De: https://viral.sapo.pt/artigos