stress faz parte do dia a dia de todos. Qualquer situação que suscite preocupação ou até entusiasmo pode desencadear stress. É este sentimento que, muitas vezes, ajuda na resolução de problemas. No entanto, quando se torna crónico, ou seja, quando se prolonga em termos de tempo e intensidade, o stress pode ter efeitos negativos na saúde.

A propósito do Dia de Consciencialização do Stress, que se assinala todos os anos na primeira quarta-feira de novembro, Paulo Santos, especialista em Medicina Geral e Familiar e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), explica o impacto do stress na saúde e esclarece como se pode geri-lo.

Qual o impacto do stress na saúde?

O stress, em si, não é mau para a saúde. Paulo Santos explica que o stress é “uma reação fisiológica que nos prepara para a ação”, em termos de “capacidade de reação, atenção, concentração e foco”, quando “somos colocados perante algo que nos preocupa, assusta” ou entusiasma.

Tal como se esclarece num texto dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla inglesa), todas as pessoas sentem stress e isso pode acontecer em diversos contextos, “quando enfrentamos problemas relacionados ao trabalho, à escola, à saúde e aos relacionamentos”.

Segundo Paulo Santos, “o problema coloca-se quando esta reação fisiológica é prolongada e acaba por ser excessiva em relação ao próprio fator que a condiciona”.

Quando o stress passa a ser crónico, sublinha-se no texto dos CDC, “pode levar ao agravamento de problemas de saúde”.

O stress pode, de facto, ter um impacto significativo em todo o organismo. Por exemplo, refere Paulo Santos, o stress crónico “faz com que haja um trabalho cardíaco prolongado, uma reação que seria natural se fosse imediata e rápida” e depois passasse, como acontece no stress comum.

Num texto da Associação Americana de Psicologia (APA, na sigla inglesa), explica-se que “o aumento consistente e contínuo da frequência cardíaca e os níveis elevados de hormonas do stress e pressão arterial podem prejudicar o corpo”.

Este stress contínuo a longo prazo “pode aumentar o risco de hipertensãoataque cardíaco ou acidente vascular cerebral”.

Além disso, refere Paulo Santos, o stress crónico pode ter impacto no metabolismo e “alterar os valores dos lípidos e o stress oxidativo”, o que pode contribuir para o desenvolvimento de doenças metabólicas, como a diabetes e a obesidade.

O sistema gastrointestinal também pode ser afetado pelo stress. A comunicação entre o cérebro e o intestino pode ser prejudicada pelo stress, o que “pode provocar dor, inchaço e outros desconfortos intestinais”, sublinha-se no texto da APA.

O stress constante e intenso afeta ainda o sistema reprodutivo das mulheres e dos homens e o sistema musculoesquelético.

“Com o stress repentino, os músculos ficam tensos de uma só vez e, em seguida, libertam a tensão quando o stress passa”, mas “o stress crónico faz com que os músculos do corpo fiquem em um estado mais ou menos constante de alerta”.

Quando os músculos ficam tensos e rígidos por longos períodos,” isso pode desencadear outras reações do corpo e até mesmo promover doenças relacionadas com stress”, acrescenta-se.

Por outro lado, salienta Paulo Santos, o stress crónico, sobretudo, afeta a saúde mental podendo, em último caso, contribuir para um quadro de burnout (esgotamento).

Enquanto o stress comum (agudo) “aumenta a capacidade de reação”, o stress crónico provoca uma “incapacidade de reação face às situações do dia a dia”, explica o médico.

Além de todos estes efeitos no organismo, o stress crónico também pode levar à adoção de “comportamentos de fuga” que, por si só, prejudicam a saúde, tais como o tabaco, o consumo de álcool e de outras substâncias.

Como gerir o stress?

O impacto que o stress tem na vida de uma pessoa depende de fatores intrínsecos (relacionados diretamente com a própria pessoa) e extrínsecos (externos).

Os fatores externos são as circunstâncias que desencadeiam uma reação de stress. “Não controlamos as situações, mas conseguimos controlar a forma como olhamos para elas e como lidamos com elas”, esclarece Paulo Santos.

É aí que entram os fatores intrínsecos. Há pessoas que têm mais facilidade em lidar com situações stressantes do que outras.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta algumas estratégias que ajudam a gerir o stress, tais como: manter uma rotina diária, já que fazê-lo “pode ajudar-nos a usar o nosso tempo de forma eficiente e a sentir-nos mais no controlo”.

É importante reservar tempo “para refeições regularestempo com os familiares, exercício físico, tarefas diárias e outras atividades recreativas”.

Ter uma boa higiene do sono, com horários de sono regulares, pouca exposição aos ecrãs e dormir num quarto escuro, silencioso e fresco também ajuda a lidar com o stress.

Praticar exercício físico regular, ter uma alimentação saudável e manter o contacto com família e amigos, com quem partilha preocupações e sentimentos são estratégias importantes na gestão do stress.

Apesar de tudo, estas estratégias podem não ser suficientes. Há pessoas que não conseguem lidar com o stress sozinhas. Nesses casos, defende Paulo Santos, “é muito importante haver um apoio psicológico”.

Este apoio ajuda “a lidar com o stress de forma saudável”, de maneira que não evolua para uma doença, “pelo menos, seja mais difícil que isso aconteça”.

De: https://viral.sapo.pt/artigos