A depressão sazonal está relacionada com a exposição solar e com o efeito direto da luz na produção de serotonina e melatonina no cérebro.
Múltiplas vezes desvalorizada e confundida com preguiça, tristeza ou pessimismo, a depressão é um problema de saúde mental sério, que provoca alterações profundas na forma como se vê e interpreta a realidade, levando geralmente a um sofrimento que se torna difícil de ser compreendido pelos outros.
A depressão sazonal consiste numa desordem comportamental relacionada principalmente com a mudança das estações do ano, surgindo normalmente um agravamento no outono e inverno (dias de frio e chuva), alturas essas caracterizadas por proporcionar pouca energia, menos vontade de sair de casa, de trabalhar, de interagir, entre outros. A depressão sazonal é mais comum nas alturas de menor luz solar, mas as alterações comportamentais relacionadas com as estações podem também acontecer noutras alturas do ano, sobretudo na primavera, podendo interferir profundamente na qualidade de vida da pessoa e daqueles que a rodeiam, de forma quase incapacitante, sendo o seu tratamento precoce a melhor forma de combater os seus efeitos nefastos.
Embora pareça absurdo, a verdade é que as estações do ano podem ser um indicador significativo da nossa saúde mental, sendo que nas regiões mais a norte, onde os dias são mais sombrios, a probabilidade de se ter esta doença aumenta. Vários estudos revelam que as mulheres têm maior taxa de depressão sazonal que os homens, como reportou o New York Times. No entanto os homens não estão imunes. Também pessoas que já tenham histórico familiar de depressão estão mais suscetíveis de desenvolver depressão sazonal.
MAS AFINAL, O QUE PODE CAUSAR A DEPRESSÃO SAZONAL?
Os cientistas acreditam que a depressão sazonal está relacionada com a exposição solar e com o efeito direto da luz na produção de serotonina e melatonina no cérebro. Em algumas pessoas, a diminuição da luz solar no outono e inverno provoca um desequilíbrio nos níveis desses neurotransmissores (automaticamente irá haver uma quebra na produção da serotonina- hormona da felicidade), responsável pela regulação do humor, apetite e sono, havendo uma maior tendência para um humor depressivo. Além da serotonina, também se sabe que a ausência de luz interfere com a produção da melatonina, hormona responsável pelo ritmo circadiano (sono), que quando produzida em excesso provoca maior nível de fadiga e falta de energia.
FATORES DE RISCO QUE DEVEMOS ESTAR ATENTOS/AS
Várias situações aumentam o risco de sofrer depressão sazonal, nomeadamente viver longe da linha do Equador, em zonas com menor exposição ao sol, ou ter deficiências de vitamina D, que é produzida graças à luz solar. Outro fator que pode levar ao agravamento do estado de saúde, é o facto de haver população particularmente vulnerável, nomeadamente com historial de depressão na família, daí que a atenção de terceiros seja fundamental. A experiência confirma que na maioria das vezes não é o próprio a notar as alterações de comportamento, mas sim as pessoas mais próximas.
Existem diversas estratégias para colmatar os sentimentos depressivos associados à mudança das estações e, caso já exista histórico de depressão na família, evitar que as alterações comportamentais evoluam:
– Sair de casa, passear e fazer caminhadas ao ar livre;
– Abrir as cortinas e janelas para permitir que entre o máximo de luz natural;
– Acordar mais cedo, para que possa usufruir mais tempo da luz natural;
– No trabalho, se possível, sente-se ao pé das janelas;
– Ter uma alimentação cuidada, evitar doces e hidratos de carbono;
– Fazer exercício várias vezes por semana sobretudo ao ar livre (sempre que possível) para reduzir a ansiedade;
– Tentar estar com amigos e família, ter uma vida social ativa.
É fundamental aproveitar ao máximo o sol nos dias de inverno para obter os seus benefícios, e mesmo quando o frio e a chuva estejam presentes, é importante contrariar a vontade de se isolar, saindo e convivendo com as pessoas mais próximas.
Por Ana Rita Monteiro
Psicóloga da Clínica Espregueira no Porto